Thiago Scuro prega 'equilíbrio' e prevê Monaco 'mais sólido' em três anos
Thiago Scuro liderou o cada mais consolidado projeto do Red Bull Bragantino e, na temporada passada, assumiu o desafio de "repaginar" o Monaco. Ele e Edu Gaspar, no Arsenal, são os dois únicos diretores brasileiros dentro das principais ligas da Europa.
De formação acadêmica, diferentemente de boa parte dos parceiros de profissão, trabalha hoje para voltar a colocar a equipe francesa entre as maiores potenciais do país e, claro, disputar novamente a Liga dos Campeões.
Tem total apoio do milionário presidente Dmitry Rybolovlev, com quem tem ótima relação, e vê na palavra "equilíbrio" o caminho para o sucesso, sobretudo uma solidez dentro de três anos de projeto.
Leonardo e Juninho antigamente no PSG e Lyon, respectivamente, Edu Gaspar hoje no Arsenal, todos dirigentes brasileiros que foram ex-jogador. Você está agora na Europa, no Monaco, mas não foi jogador. Quais são as diferenças?
Nós, culturalmente, estamos habituados a esse perfil: ex-jogadores, terminando a carreira, assumindo posições diretivas dentro de clubes de futebol. Você citou exemplos com caminhos totalmente diferentes, todos muito respeitados fora e também no Brasil. Mas, por exemplo, quando você olha a trajetória do Edu, ele conseguiu conciliar as duas coisas, né? O Edu estar no Arsenal, hoje, também é um processo de construção, de muitos anos de Corinthians, de capacitação, de estudar, de buscar conhecimento.
Óbvio que o fato de ter sido jogador cria alguns atalhos para ter oportunidades. E um caso parecido com o meu, um perfil que vem do mundo acadêmico, que vem construindo essa trajetória desde categorias de base. Eu acho que assim, o caminho é um pouco mais longo, são mais de 20 anos trabalhando, desde categorias de base até chegar a equipe profissional. Sem dúvidas, a oportunidade de dirigir, no Brasil, um projeto como a Red Bull tem muita visibilidade e ótima reputação no mercado europeu. Contribuiu muito para eu ter a oportunidade no Monaco. Mas eu entendo que o mercado europeu vê isso de forma natural. Cada vez mais, você tem, em diferentes ligas - Alemanha, Inglaterra, França e Itália -, profissionais dirigindo equipes de futebol que não necessariamente foram ex-atletas, que não foram atletas, mas que estão construindo, através da gestão do conhecimento, bons projetos no futebol.
No geral - dirigentes, jogadores e treinadores - eles olham com mais preconceito ou mais personalidade aquele que vem da bola ou aquele que não vem da bola?
Na minha visão, esse rótulo só determina o primeiro passo. Então, óbvio que ex-jogadores com trajetória, com conhecimento, em um primeiro momento, são recebidos ou são tratados de forma diferente. Talvez com menos desconfiança, com mais abertura, com mais facilidade de acesso. E eu acho que profissionais que não passaram por isso precisam dessa construção, precisam da comprovação, da competência, do conhecimento, da conduta, do comportamento.
Agora, no meu entendimento, para ambos, o tempo trata de colocar cada um em seu nível, cada um em sua condição. Porque só o fato de ter sido jogador, de ter sido atleta profissional não significa que isso vá se converter em um grande profissional - seja diretor esportivo, treinador ou qualquer outra função. A indústria do futebol cada dia é mais complexa, menos simplória do que o torcedor em geral enxerga, discute ou debate. Sem conhecimento técnico, sem profundidade nos assuntos cuja gestão compete ao diretor esportivo, não tem como desenvolver um trabalho de qualidade nos dias de hoje. Então, eu acredito no conhecimento, acredito muito na postura, na transparência, na honestidade. E isso tem funcionado, para mim, pelo menos, para construir essa trajetória, essas relações, desde que eu iniciei.
E o olhar em cima do dirigente brasileiro em si?
Com muito respeito. Até hoje, são seis meses já tendo a oportunidade de interagir com diferentes clubes. Seja em transferências de jogadores, em eventos, reuniões. Tenho tido a oportunidade de ser parte da Comissão de Desenvolvimento do Futebol Profissional da Associação de Clubes Europeus (ECA). Ali, a gente também tem interação com vários clubes. O futebol brasileiro é admirado internacionalmente, talvez até mais respeitado do que nós mesmos o respeitamos. Em um primeiro momento, eu tenho sentido muito respeito, muita curiosidade de entender como o nosso mercado funciona, quem são os principais clubes, onde estão as principais categorias de base, por exemplo. Entender como é a dinâmica do jogo, do mercado, do negócio. Até aqui, o que eu tenho recebido é muito respeito, muita admiração para com nosso futebol. Por isso que é muito importante também que a gente use isso de forma positiva e consiga desenvolver um trabalho consistente, sólido, honesto, transparente, para também poder consolidar essa referência da qualidade do futebol brasileiro dentro de campo, que também pode ser convertida para profissionais fora do campo.
Qual é a característica mais gritante do dirigente esportivo brasileiro?
É um ambiente muito heterogêneo no Brasil, né? Porque não existe um processo de formação sistematizado do diretor esportivo no Brasil. Cada um de nós percorreu um caminho para se desenvolver. Alguns através da experiência prática, em diferentes clubes; outros através de conhecimento teórico. Os clubes têm características muito diferentes, no Brasil, o que também gera um desafio diferente para os diretores esportivos. O que eu vejo é que nós evoluímos muito nos últimos anos, nesse sentido. Cada vez mais, a gente tem profissionais aptos a dirigir o processo de forma científica, de forma técnica, de forma profissional.
O desafio que todos nós temos, no futebol brasileiro, ainda é a governança, né? O modelo associativo ainda limita muito a atuação do diretor esportivo como a gente vê na Europa. Então, na minha concepção, em muitos momentos, não é falta de capacidade dos profissionais; é que o sistema não contribui para que planos de médio prazo sejam consolidados, para que projetos esportivos sejam desenvolvidos. A gestão ainda é muito passional e reativa no futebol brasileiro, e isso dificulta para qualquer um de nós que esteja nessa cadeira. Então, eu acho que essa característica comum que existe, hoje, entre os principais diretores do mercado brasileiro é uma visão sistêmica do processo. Não só contratar jogadores, mas entender o papel do treinador, o papel de todas as áreas em volta da equipe, para que isso seja desenvolvido. E um olhar muito forte para categorias de base e formação. Isso é parte do DNA do futebol brasileiro. Então, eu acho que todos nós temos esses critérios muito bem desenvolvidos, em comparação a qualquer outro mercado do futebol mundial.
Qual é o nome diretivo mais relevante hoje no futebol brasileiro? Um bom exemplo...
Não tenho problema nenhum em apontar o nome: Rodrigo Caetano. Está no Atlético-MG. O Rodrigo foi um atleta profissional, iniciou em categoria de base. Nós convivemos, no mercado, há praticamente 20 anos. Eu, lá, coordenador de base do Pão de Açúcar Esporte Clube, atual Audax; o Rodrigo no Grêmio. Um profissional que foi crescendo, formado em Administração de Empresas. Foi se capacitando no decorrer dos anos, desenvolveu trabalhos consistentes em alguns clubes grandes do futebol brasileiro. Então, na minha concepção, percorreu um caminho para merecer ser considerado, para merecer ser ouvido e ter a oportunidade de apresentar um plano.
Eu acredito nesse caminho. Ele usa todo esse conhecimento e essa experiência de 20 anos que ele tem em prol do futebol profissional brasileiro. Com certeza, a chance de um profissional que conheça o mercado brasileiro, que conheça a política do futebol brasileiro ter êxito é muito maior. Assim como o Edu desenvolveu um grande trabalho à frente da Seleção, depois de também ter conquistado bastante coisa no Corinthians, ter vivido bastante coisa na prática, no dia a dia. E pôde aplicar seu conhecimento em prol da Seleção Brasileira. Então, para mim, o Rodrigo deveria ser um nome considerado.
Você esteve ligado durante anos ao grupo da Red Bull, que tem mais clubes na Europa, mas a sua primeira oportunidade no exterior surgiu no Monaco. Por quê?
Eu criei, no decorrer dos anos, uma ambição de ter uma oportunidade na Europa, por várias razões. Nos últimos anos, direcionei parte da minha formação e do meu relacionamento para isso, indo viver alguns programas de formação de gestores de futebol na Europa. A Red Bull me possibilitou estar muito presente no RB Leipzig, principalmente - mas também no New York Red Bulls, então, tendo uma vivência de MLS. Obviamente, estando dentro de um grupo como esse, você cria a expectativa de que esse passo possa ser dado internamente. Até pela forma como o grupo Red Bull se organiza em diferentes mercados, com uma ideia e um modelo muito peculiares. Consegui ter bastante sinergia com isso. Mas a gente não consegue controlar as decisões que não somos nós que tomamos.
O convite para participar do processo seletivo do Monaco surge em um momento em que eu já entendia que o meu papel dentro do Red Bull Bragantino estava muito consolidado. Então, após a operação do clube, estabelecer um clube na Série A... Eu sempre falei que eram três anos... O grande desafio dos clubes desse porte que sobem da Série B para a Série A é romper a barreira dos três anos de Série A. Nós conseguimos romper isso, classificando para a Copa Libertadores, para a Copa Sul-Americana, fazendo uma final de Copa Sul-Americana. Implementamos o modelo de uma equipe muito jovem, com um jogo agressivo. Enfim. O projeto do centro de treinamento pronto em execução. O projeto do estádio muito bem encaminhado. Então, tem dias que também, depois de seis anos e meio construindo isso tudo, eu precisava do próximo passo, até para não gerar uma acomodação, que muitas vezes acontece. E aí, o processo seletivo para participar no Monaco apareceu.
Desde o primeiro momento, as conversas que eu tive com as pessoas do clube - especialmente com o presidente - me pareceram muito adequadas às minhas ideias, ao modelo que eu enxergava. E, obviamente, uma oportunidade especial, né? Uma das grandes marcas do futebol europeu, um clube capaz de competir no topo da liga francesa, capaz de competir em Champions League e, naturalmente, combinando também alguns aspectos pessoais. Tem sido, também, uma grande oportunidade para os meus filhos, para a minha família. E aí, tudo isso junto acabou consolidando a decisão de aceitar esse desafio e dar esse passo.
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Quero receberQue Monaco que você encontrou nesses seis meses? E já há um "toque" do Thiago Scuro no projeto?
Eu encontro um clube cuja estrutura em torno dele é muito bem organizada, com um bom processo de formação em categorias de base - que é algo que, historicamente, o Monaco desenvolve muito bem. Grandes jogadores, como Thierry Henry, Trezeguet, Thuram e Mbappé vieram das categorias de base do Monaco e, a partir dali, se desenvolveram e cresceram. Então, o Monaco mantém isso muito forte. O que tem muita sinergia com o que eu estava habituado a viver aqui. E aí, na equipe profissional, a oportunidade de recrutar um novo treinador, para iniciar um novo ciclo. Já consegui desenvolver algumas coisas na direção do que eu acredito. Então, o Adi Hütter vem de um processo seletivo que eu pude liderar e dirigir. Junto com o presidente, trouxemos um treinador que a gente entendia que tinha a ideia de jogo que eu gostaria de aplicar no Monaco, ao mesmo tempo, com um perfil de liderança. E, até aqui, os resultados vêm se comprovando. É a melhor metade de temporada dos últimos cinco anos do Monaco. Temos 35 pontos em 17 jogos, estamos em 3º, brigando com o Nice pelo 2º lugar.
O desafio de incomodar o PSG é grande. Mas o nosso grande objetivo para a temporada é estar entre os três e retornar à fase de grupos da Champions League - algo que o Monaco não faz há cinco anos. O foco, em um primeiro momento, é dar uma estabilidade de resultado esportivo à equipe profissional e também poder construir, conceitualmente, tudo o que a gente pensa em volta do clube. Tenho tido liberdade e apoio do presidente para implementar muitos projetos que eu tenho certeza que darão frutos em breve.
Nós, brasileiros, lembramos de dois times do Monaco específicos: aquele Monaco vice-campeão europeu, perdeu para o Porto na final da Champions League; depois vem aquele Monaco poderoso, com grandes contratações, campeão nacional, Mbappé, antes Falcao, James Rodríguez, enfim. Investimentos multimilionários. Esse Monaco de hoje é diferente? É mais pé no chão?
Sim. O Monaco tem, em 2011, a entrada do nosso atual presidente e dono do clube, o Dmitry. Entra no clube em um momento em que o Monaco estava na segunda divisão do Campeonato Francês, com muitos problemas financeiros, organizacionais. E, basicamente, entra com o compromisso de investimento. Não foi uma compra vultuosa, mas assumir a gestão com o compromisso de investimento para que o clube pudesse voltar a competir e crescer. Retorna à primeira divisão no primeiro ano. E aí sim, como você bem mencionou, grandes investimentos foram feitos, grandes jogadores contratados: James, João Moutinho, Falcao García. O que gera essa primeira onda dessa equipe competitiva, liderada pelo Leonardo Jardim. E aí, logo na sequência, a gente tem a implementação das restrições financeiras no futebol europeu. Esse é o grande corte que faz com que a estratégia do Monaco tenha se moldado no decorrer dos anos. Não só vindo da UEFA, o Financial Fair Play, mas também a DNCG, que é o órgão francês que regula o endividamento e o investimento dos clubes da liga francesa. A partir daí, a estratégia é um pouco remodelada para poder adequar o clube ao cumprimento das exigências.
O Monaco de hoje é um clube que aposta muito em jovens jogadores, aposta em jogadores de performance, para poder gerar essa estabilidade de desempenho, para poder ter a referência, as lideranças. Abre muito espaço para as categorias de base estarem na primeira equipe. E, no decorrer desses anos, outros investimentos foram feitos no centro de treinamento, um dos melhores centros de treinamento da liga francesa, foram quase 60 milhões de euros investidos em infraestrutura.
Hoje, nós somos o quarto ou quinto orçamento da Ligue 1 em termos de folha salarial, de investimento, de budget. E nós temos um desafio muito grande, que é incrementar as receitas comerciais. O nosso dia de jogo é bastante limitado, porque nós estamos em um país de 36 mil habitantes, então a gente tem muita dificuldade de fazer com que o dia de jogo seja mais rentável. O que, obviamente, geraria mais receitas comerciais. Então, basicamente, o modelo do clube para poder investir mais é através do desenvolvimento e da venda de jogadores. Isso faz com que a gente tenha uma maior capacidade de investimento. E, estando na fase de grupos da Champions League, que representa muito, financeiramente, para qualquer clube da liga francesa, vai fazer também com que a gente tenha uma capacidade maior de investimento.
Esse Monaco, pelo que você viu em seis meses, apesar da boa primeira volta ao Campeonato Francês, tem condições de bater frente a frente com um PSG?
O resultado de curto prazo é muito importante, por isso que a gente investe em jogadores de performance, como, por exemplo, o Denis Zakaria, que veio e já é um jogador-chave. Foi um investimento significativo. Um jogador de 27 anos, já com uma carreira consolidada. Então, é um projeto mais equilibrado no diz respeito a jogadores para entregar performance e jogadores para desenvolvimento. O Monaco de hoje, na minha concepção, é apto a estar entre os três no final da competição e retornar à Champions League. E isso vai possibilitar que a gente acelere o projeto esportivo. Eu entendo que, em três anos, nós vamos estar mais sólidos, mais consistentes com o plano que pode ser implementado.
O rivalizar com o Paris Saint-Germain, desde que esse novo Paris entrou e tem a capacidade de investimento que tem, é algo difícil de controlar, enquanto gestor. Pode acontecer, como já aconteceu com o Monaco e com o Lille, nesses 10 anos. Mas depende muito mais dos jogadores, do enredo da competição, do treinador, daquela coisa funcionar de forma quase que perfeita. Porque a verdade é que a diferença financeira é muito, muito grande. Muito mais discrepante do que aquela a que estamos habituados no futebol brasileiro. E isso faz com que o Paris tenha um conforto muito maior para cometer erros do que qualquer outro clube do futebol francês. Mas é evidente que todos trabalham para buscar isso. Mas sabendo da dificuldade que é você conseguir competir com um investimento do tamanho daquele do PSG.
Como é que o Monaco continua trabalhando a formação e o perfil de jogador que busca no mercado de transferências?
Como eu te falei, o projeto do Monaco para os próximos três anos, que é o meu tempo de contrato, está todo costurado em cima do equilíbrio. Então, o perfil do jogador que nós vamos buscar depende da posição e do equilíbrio do setor. Então, no fundo, o objetivo é que a gente tenha, vamos dizer, nos três setores da construção do elenco (linha defensiva, meio-campo e ataque), um equilíbrio em termos de estágio de carreira, idade, experiência, maturidade e desenvolvimento. A ideia não é que nós tenhamos uma equipe predominantemente de desenvolvimento, como é o caso do Red Bull Bragantino, por exemplo. Então, a gente, com essa premissa, estabelece quais os setores, as necessidades. Elas estão muito atreladas à expectativa de saída dos jogadores ao término da temporada. Obviamente, o Monaco se tornou, nos últimos anos, um dos maiores vendedores do futebol europeu, e isso faz com que, naturalmente, o atleta tenha um ciclo de dois, três anos dentro do Monaco para dar o próximo passo. O que gera também a capacidade de reinvestimento do clube. E aí, se nós temos também, na linha ofensiva, já estabelecidos jogadores com perfil de performance, nós temos a oportunidade de trabalhar atletas para desenvolvimento, com mais potencial. Se é o contrário, nós já temos, naquela determinada posição, jogadores jovens, no estágio de desenvolvimento, jogadores com qualidade vindos da categoria de base, a ideia é não fazer contratações que bloqueiem esse caminho para o atleta jovem.
É buscar jogadores que entreguem o estágio de performance. Para ficar mais fácil de o público entender, de uma forma muito resumida, nós estamos trabalhando até 23 anos o atleta em desenvolvimento, o potencial. Entre 23 e 24 até os 28 e 29, esse atleta é performance, gerar o investimento para que esse atleta jogue algumas temporadas no clube. E aí, a partir dos 29 e 30, naturalmente, é um estágio de declínio da performance. Mas é óbvio que, mais e mais, se tem jogadores que são importantes nessa faixa etária, como, no nosso caso hoje, a gente tem o Bem Yedder nessa faixa etária, que tem sido um dos principais jogadores do Monaco nos últimos anos e o atual artilheiro nosso na temporada. Então, é dessa maneira que a gente classifica o perfil do atleta que a gente busca. Mas sempre em cima da ideia de jogo, que é um jogo agressivo, que é um jogo para frente, um jogo de pressão na bola, de transição rápida, buscando criar o maior número de chances de gols possível, o que naturalmente gera uma equipe bastante exposta. E, para isso, você precisa de jogadores com a característica para esse modelo de jogo.
Olhando para o nosso mercado, enfim, para jogadores brasileiros. O Monaco, hoje, conta com dois: o Caio Henrique e o Vanderson. Qual é a projeção para eles?
O Caio infelizmente encarou uma lesão de LCA no melhor momento da carreira dele. Convocado para a Seleção Brasileira, já atuando três anos, consecutivamente, muito bem, no Monaco, indo para a terceira temporada. Um jogador na idade ideal. Então, o Caio está no processo de reabilitação, nós estamos esperando ele voltar no final desta temporada. É um dos jogadores-chave para o Monaco, um jogador que faz muita falta nesse processo nosso de desenvolvimento. O Vanderson é um jogador jovem, que já se estabeleceu. Na minha concepção, é um dos melhores jogadores brasileiros na posição dele jogando no futebol mundial. E nós estamos dando todas as condições para que ele continue evoluindo, crescendo. Nos últimos jogos, ele teve atuações destacadas, com assistência, com gol.
Nós estamos, atualmente, predominantemente jogando em uma formação com três zagueiros, que dá muita liberdade ofensiva para ele. O que é uma das grandes virtudes que o Vanderson tem. Um jogador muito privilegiado fisicamente, mentalmente muito maduro, muito sério, muito profissional. Então, eu não tenho dúvidas de que o Vanderson está se tornando um dos principais jogadores na posição dele no futebol mundial. Para mim, é uma questão de tempo. É ele continuar trabalhando no caminho que ele está. Espero que ele volte a ter oportunidade de defender a Seleção Brasileira, ele já tem duas convocações. Em uma delas, ele acabou não tendo a oportunidade de ir por conta de lesões também. Eu espero que ele possa, agora em 2024, retomar esse caminho. Sem dúvida, vai contribuir também com o desenvolvimento dele.
Como é que o Monaco, agora, com Thiago Scuro no papel de dirigente, olha para o mercado brasileiro?
Eu acho que assim, em um clube como o Monaco, nós olhamos o jogador por inteiro. Obviamente, a gente acompanha as principais ligas do mundo, as principais seleções de base, as principais competições... Um clube com a característica do Monaco. Mas é claro que eu vejo o conhecimento que eu tenho do mercado brasileiro e sul-americano como algo positivo, não como algo negativo. Para mim, surpreenderia se, em algum momento, isso pudesse ser utilizado de forma negativa. É uma das razões pelas quais o presidente me escolheu também. Para que a gente possa intensificar ainda mais essa relação do Monaco com a América do Sul, não só com o Brasil.
Historicamente, o Monaco sempre teve sul-americanos, a gente citou alguns na nossa conversa até aqui. Equipes vitoriosas do Monaco que tiveram brasileiros, que tiveram colombianos, que tiveram argentinos, uruguaios. E a ideia é que a gente consiga intensificar isso, até porque a América do Sul continua sendo um grande ambiente de jogadores talentosos, em um estágio de desenvolvimento em que um clube como o Monaco pode ser uma etapa ideal para esse atleta atingir o melhor da performance dele. Então, sim, a ideia é utilizar mais, obviamente lidando com a limitação de quatro estrangeiros que a liga francesa nos impõe. Então, essas decisões precisam ser muito pontuais, muito sábias, muito seguras, para que a gente possa usar essas vagas de estrangeiros de uma forma efetiva e eficiente.
Olhando novamente agora para o projeto do Red Bull Bragantino. Enxerga o clube com um olhar de pai de para filho?
Eu acho que, talvez, o ponto de maior orgulho e satisfação que eu tenha em relação ao Red Bull Bragantino tenha sido manter, para uma empresa como a Red Bull, a visão de que é seguro investir no Brasil. Que vale à pena, que o mercado brasileiro é sério, ele é confiável, se você encontrar as pessoas certas, se você estabelecer o processo certo. Tudo que o Red Bull Bragantino se tornou, é impossível que isso seja um mérito individual. Não é. Isso é uma construção de vários profissionais, de várias áreas, de uma... Enfim, é um processo muito mais complexo. No que eu pude contribuir mais foi fazendo com que essa relação entre uma empresa austríaca, com todas as dúvidas que os estrangeiros têm em relação ao investimento no nosso País, fosse bem direcionada, fosse bem equacionada. Sempre conseguindo estabelecer uma relação de transparência, de honestidade com a empresa da Red Bull. O que fez com que a Red Bull tivesse aptidão e segurança para fazer todos os investimentos que fez nos últimos anos. E continua fazendo.
Transformar um clube de uma cidade pequena do interior, que vinha com muita dificuldade de sobrevivência - não é nem competitividade - em uma das referências, hoje, do futebol brasileiro, em vários aspectos. Então, muito mais do que qualquer conquista esportiva, do que qualquer treinador, do que qualquer jogador, eu acho que [o maior legado] foi estabelecer essa relação de segurança e de honestidade entre a Red Bull e o mercado brasileiro. E eu espero que outras empresas possam, assim como a Red Bull, enxergar o mercado brasileiro com segurança, que possam contribuir com o desenvolvimento do nosso futebol. Para mim, esse é o grande ponto de orgulho, de satisfação, quando eu olho para tudo que a gente viveu na construção do Red Bull Bragantino.
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