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Primeiro de maio: dia de celebrarmos Vasco e Bangu
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A história do futebol brasileiro não pode se separar da história da causa trabalhista e do surgimento da classe proletária no Brasil. E essa história tampouco pode ser contada sem o protagonismo de dois clubes cariocas: Bangu e Vasco.
No dia 8 de março de 1893 foi inaugurada a Companhia Progresso Industrial do Brasil, fábrica de tecidos de capital português, em Bangu, Rio de Janeiro. Para que a fábrica fosse administrada, alguns diretores ingleses chegaram ao Brasil, trazendo com eles uma bola e muitos sonhos.
Em 1904 o Bangu Athletic Club foi fundado permitindo que outros, além de membros da comunidade britânica, se associassem (até porque o número de gringos não seria suficiente para formar dois times que pudessem se enfretar e treinar).
Os operários, então, passaram a fazer parte do elenco. Em 1905 um time formado por cinco ingleses, três italianos e dois portugueses tinha também um negro, que seria o primeiro a atuar no futebol brasileiro: Francisco Carregal. Em estudo de autoria do geógrafo Fernando da Costa Ferreira ficamos sabendo que o Bangu pagou um preço bastante alto pelo pioneirismo e pela posição antirracista. Logo o clube se tornaria um dos principais alvos por parte da arbitragem e de torcedores dos outros times da época. O autor cita as palavras do jornalista Mário Filho:
"Era sempre bom, mesmo para um clube de fábrica, ter mais brancos do que pretos no time. Os pretos muito visados, quase não podendo fazer nada em campo. Tendo de jogar um futebol muito limpo, muito decente, respeitando os brancos. Quando um preto metia o pé num branco era sururu na certa. Todo mundo achando que o preto devia ser posto para fora de campo. A torcida dos clubes brancos, muito maior. O Bangu vinha jogar com um Fluminense, com um Botafogo, com um Flamengo ou com um América, não trazia quase ninguém: o time, meia dúzia de torcedores. Os torcedores do Bangu perdiam-se na geral, na arquibancada, nem abriam a boca. Os pretos que se portassem muito direitinho, senão apanhavam".
Ferreira explica que, se por um lado as perversas perseguições sofridas pelo Bangu hoje nos parecem intoleráveis, por outro elas serviram para reforçar os laços que uniam o clube aos moradores do bairro e aos operários da fábrica: "Fatos como esses fizeram com que o novo clube conquistasse a simpatia dos funcionários da fábrica de tecidos e dos moradores do bairro, criando uma forte identidade entre eles. A impressão que se tinha ao chegar a Bangu era de que clube e fábrica pareciam compor um único conjunto"
Por causa de equipes como o Bangu e Vasco teve início o processo de proletarização do futebol brasileiro e fez nascer o operário-jogador, precursor do atleta profissional. Os times das fábricas conseguiram criar uma identidade própria e fazer com que o futebol fosse perdendo algumas características gringas e ganhando um jeito autêntico de ser jogado por aqui.
O estudo conclui:
"A partir do surgimento das equipes fabris, teve início o processo que culminaria com o título carioca de 1923, conquistado pelo Vasco da Gama, onde, pela primeira vez, uma equipe composta na sua maioria por negros, brancos pobres e analfabetos triunfaria frente aos "moços finos de boas famílias" de Fluminense, Flamengo, Botafogo e América, rompendo os limites étnicos e sociais impostos desde a chegada do jogo da bola ao nosso país".
A importância de Bangu e Vasco para o nascimento do verdadeiro futebol brasileiro é inegável e deve ser celebrada todos os dias, mas talvez especialmente nos primeiro de maio, dia internacional do trabalho, do trabalhador e da trabalhadora.
Aqui você pode ler o estudo em que esse texto se baseia.
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