Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Fernanda Venturini e a delinquência ignorante que não teme dizer seu nome
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A ex-atleta de vôlei Fernanda Venturini foi se vacinar deixando cristalinamente claro em uma mensagem de vídeo postada nas redes sociais que ela é contra a vacina, mas que precisava se vacinar para poder viajar o mundo. E já que tinha que fazer o enorme sacrifício de se vacinar, então ia tomar a menos pior das vacinas, que para ela é a Pfizer.
É um tipo de ignorância bastante solidificada e internalizada, e que não tem nenhuma vergonha de se revelar publicamente. Fernanda tem um canal no Youtube sobre saúde, o que me parece agora o equivalente a eu ter um canal sobre contabilidade e, mesmo sem entender patavinas do assunto, sair pregando desenvergonhadas farsas sobre o tema.
Se Fernanda entendesse alguma coisa de saúde ela saberia, para começo de conversa, que não existe vacina melhor ou pior para a covid-19. Todas as que estão sendo aplicadas se mostram eficientes para evitar mortes, e as diferenças de aferição nos resultados se deve ao fato de as pesquisas terem usado métodos diferentes de medição. CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e até a Janssen têm eficiência determinante que são da ordem do viver ou do morrer. A melhor vacina contra a covid é a que está disponível no posto de saúde. É a palavra da ciência. É apalavra aferida. São dados, números, fatos.
A ignorância desenvergonhada da ex-atleta ainda foi capaz de fazer ela dizer que não acredita na vacina, mas que vai tomar para poder viajar o mundo. Fernanda é dessas pessoas que podem viajar o mundo, e isso é bom para ela. Mas uma reflexão de dez segundos levaria Fernanda a pensar o seguinte: se o mundo inteiro exige a vacina para que viajantes possam exercer seus privilégios, como exatamente a vacina pode ser desprezível ou ineficiente?
Será que Fernanda deu uma espiada nos números de infectados e de mortos nos países que já vacinaram mais da metade da população?
Fernanda pode ser contra o por do sol, mas isso não vai evitar que o sol se ponha no horizonte. Ela pode ser contra a lei da gravidade, mas isso não vai evitar que ela pule de um penhasco e se estatele no chão. Ela pode ser contra o que bem entender desde que não saia por aí declarando publica e orgulhosamente um tipo de estupidez que colabora para que mais brasileiros adoeçam, se contaminem e morram. Se 500 mil mortos não a comovem, então que pelo menos se cale.
Não surpreende saber que Fernanda Venturini é bolsonarista, o que justifica o negacionismo tosco. O que surpreende é saber que, diante de meio milhão de mortos, ela, uma pessoa pública, comete o desatino, a imoralidade, a delinquência de ir tomar a vacina e fazer um vídeo que tenta desmoralizar a vacinação que tantas vidas tem salvado. E enquanto vomita sua ignorância nas redes sociais, sorri um sorrisinho maroto, debochado, superior.
Fernanda é possuída por um tipo de baixaria que não se contenta em ser vergonha nacional e quer se agigantar optando por adicionar arrogância à estupidez: depois de gravar o vídeo dizendo "sou contra a vacina", Fernandinha achou bacana justificar a atitude sugerindo que todos e todas nós somos completos cretinos já que ela, que tem um canal que fala de saúde no Youtube, não poderia ser contra a vacina mesmo dizendo ser contra a vacina.
Entenderam? Depois de dizer a frase "sou contra a vacina", vendo que não pegou bem, ela negou ter dito a frase.
Não existe margem interpretativa para "sou contra a vacina". Não se trata de haver nessa simples frase de três palavras algum espaço para interpretação. Mas na desesperada ânsia de dizer que não disse o que disse ela ainda tentou explicar - enfurecidamente - que se fosse contra a vacina não teria se vacinado, sendo que no vídeo gravado por ela mesma Fernanda diz que estava se vacinando, mesmo sendo contra a vacina, apenas para poder viajar - já que o mundo todo agora exige o documento que prova que o viajante está vacinado.
É muita desonestidade, muita delinquência, muita miudeza de caráter numa pessoa só.
Deve ser difícil ser Fernanda Venturini. Mas mais difícil é viver num Brasil de muitas Fernandas Venturinis.
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