Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por menos Mauricios e mais Douglas no esporte, na sociedade, no mundo
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Depois da derrota para a Argentina, Mauricio Souza, do vôlei, postou em suas redes sociais um vídeo de Jair Bolsonaro desejando sorte ao time. Na legenda, o atleta brasileiro pede desculpas ao presidente pela derrota, deixa claro ser seu apoiador e se refere a ele como "capitão". Na hora em que vi o post pensei que escapamos de ter uma medalha dedicada a Jair Bolsonaro, e isso me deixou feliz.
Que alguém ainda tenha a petulância de defender o presidente em exercício é uma violência no sentido mais forte da palavra. Ao se derreter em ternura para um homem que lidera um plano nacional de genocídio arquitetado pela demora em comprar e distribuir vacinas, pelas suspeitas de desvio de dinheiro na compra de insumos, pela grotesca negação do vírus, pelos apelos para que não usemos máscaras, pela insistência em fazer propaganda de remédios de comprovada ineficácia, pela falta de empatia com os mortos e com a dor das famílias, Mauricio ofende todos e todas nós, que estamos há quase dois anos entregues à própria sorte na luta contra essa pandemia.
E mesmo que não houvesse pandemia, já seria extremamente indecente tratar como ídolo uma pessoa que comparou negro a gado, disse que algumas mulheres merecem ser estupradas, que se tivesse um filho gay espancaria, que é fã de um terrorista de estado e torturador, que a ditadura tinha que ter matado uns 30 mil, que adversários políticos podem ser metralhados. Tudo isso antes da eleição, antes da pandemia, antes do genocídio.
Mas agora, sobre o corpo de quase 600 mil brasileiros e sobre um total de quase 500 mil mortes que poderiam ter sido evitadas caso tivéssemos agido rapidamente na criação de um plano nacional de cuidados, prevenção e vacinação, essa declaração em homenagem a Bolsonaro se torna ainda mais delinquente e violenta. Não se dá as mãos ao fascismo bolsonarista impunemente e a declaração de Mauricio está devidamente registrada na história.
É preciso enxergar a violência onde ela de fato existe e não apenas em pedras atiradas em vidraças durante passeatas. É violência que a estátua de um predador racista siga existindo como símbolo histórico na cidade de São Paulo. É violência permitir que trabalhadores e trabalhadoras se aglomerem em transportes públicos todos os dias (com ou sem pandemia). É violência não chamar uma pessoa trans pelo nome com o qual ela se identifica. É violência elogiar presidente negacionista responsável direto pela morte de tantos de nós.
Para aplacar a revolta de ter que ver um atleta olímpico se derreter por um genocida só mesmo a certeza de que para cada Mauricio temos pelo menos quatro Douglas e que é justamente a integridade, a coragem, a ousadia, o humor e a criatividade dos Douglas que vão nos tirar desse estado lamentável de coisas no qual nos metemos.
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