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Jogador pode perder a paciência com seu torcedor?
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Na rodada do fim de semana do Brasileirão, Lucca, atacante do Fluminense, em vez de celebrar o gol que o time fez no finalzinho do jogo contra o Sport, saiu esbaforido fazendo gestos de impaciência para a torcida que tinha começado a xingar o time. No dia seguinte, alvo de uma enxurrada de críticas, Lucca pediu desculpas do jeito mais inadequado possível, no ritmo do "desculpe se ofendi, minha intenção não era essa". Acho que devia constar do manual da desculpa pública uma nota para que um pedido de desculpas jamais usasse essa frase vazia.
Primeiro, porque normalmente a intenção é mesmo essa: ofender. Depois, porque o "minha intenção não era essa" não aplaca a dor de quem se sentiu ofendido. Um pedido de desculpas mais autêntico diria: "Peço desculpas aos torcedores e às torcedoras. Perdi a cabeça e agora me arrependo de ter feito o que fiz".
Mas acho que o episódio convida a outras reflexões.
Qualquer um de nós que estivesse ali correndo e suando por 90 minutos sem conseguir fazer um gol ficaria chateado escutando vaias e xingamentos vindos das cadeiras do estádio. Nada mais humano. E, claro, qualquer um de nós que, mesmo sob xingamentos, conseguisse marcar teria ímpetos de sair devolvendo as espinafrações. Até aí tudo absolutamente natural.
Só que é também natural que os torcedores esperem que o jogador, ao fazer o gol, esqueça as vaias e vá celebrar em comunhão com a torcida. E nem sempre isso acontece porque jogador e jogadora são feitos da mesma carne que a nossa.
Do lado da arquibancada, mais justo seria xingar a diretoria e deixar o jogador, que está em campo tentando fazer seu trabalho, em paz. Mas, obviamente, a gente foi formado para ir a campo xingar os caras que vestem nosso manto sagrado se julgarmos que eles não estão fazendo justiça ao peso da camisa. Então vira uma equação maluca, onde ninguém tem razão e, ao mesmo tempo, todos têm.
O que seria bacana a gente entender é que o gol da vitória no finalzinho anula toda a esquizofrenia, os conflitos e as contradições que envolvem torcer e distorcer. O gol no finalzinho cancela a vaia, cancela a falta de pontaria, cancela o xingamento e o jogo ruim. O gol no finalzinho é puro amor.
E nem todos são Nenê, o meia do Vasco, que mesmo xingado e derrotado, saiu de campo chorando, declarando amor à camisa e dizendo que fica mesmo que o time não suba.
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