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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milly Lacombe: Como a gente se recupera da dor do rebaixamento?

Especial - Futebol Raiz Bilheteria do Estadio Conde Rodolfo Crespi, do Juventus, na rua Javari - Gabo Morales/Folhapress
Especial - Futebol Raiz Bilheteria do Estadio Conde Rodolfo Crespi, do Juventus, na rua Javari Imagem: Gabo Morales/Folhapress

Colunista do UOL

13/11/2021 20h37

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O campeonato brasileiro da série A, conhecido como Brasileirão, pode não ser tecnicamente bom, mas está longe de ser fácil. O rebaixamento dos times de torcida mais numerosa é uma realidade desde que ele foi adotado, há quase 20 anos. Com uma dificuldade maior: voltar da série B para a série A era mais fácil antes do que é hoje. Se nosso futebol não ganhou em técnica ele talvez tenha ganhado em competitividade.

E, ao que tudo indica, esse ano teremos mais times chamados popularmente de "grandes" tombando de série. Coloquei a palavra grande entre aspas porque acho que grandeza não pode ser medida apenas por tradição, tamanho de torcida e, muito menos, por região. Para quem ama um time, esse time é o maior do mundo e escutar que seu time não é grande é como ouvir que nossos filhos não são bonitos. Não faz nenhum sentido e ainda deixa a gente com raiva.

A sensação de ser rebaixado é horrorosa. Quando o juiz apita o fim do jogo que decreta o tombo é como se alguma coisa no mundo tivesse sido para sempre perdida. Uma emoção que se compara ao pé na bunda, faz a gente querer sumir, nunca mais ver um jogo de futebol, arrancar de dentro do nosso peito aquele amor não correspondido.

Mas, como tudo na vida, um dia depois do outro vai deixando as coisas em seus devidos lugares. A dor diminui e se transforma num poderoso desejo de dar a volta por cima. A gente se reencontra com a paixão, descobre novas formas de amar e de se relacionar com a camisa que escolhemos chamar de nossa. O orgulho ganha novas dimensões e quando a gente percebe já está comprando ingressos para todos os jogos.

Seguir rebaixado depois de um ciclo é passar pela travessia de renovar esses votos, repactuar o amor, encontrar - ainda mais uma vez - os motivos que nos levaram a amar aquela camisa. E eles estão todos lá: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza.

Termino com uma frase da qual gosto muito, do escritor Louis L'Amour: "Vai chegar uma hora em que você será levado a acreditar que tudo acabou; esse vai ser o começo".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL