Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Milly: Fica, Michael
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Leio que o Flamengo estudar proposta para vender Michael para o Al-Hilal, da Arábia Saudita e, sem entender de imediato, fico triste. Não entendo a tristeza porque sou tudo menos flamenguista e, portanto, deveria até ficar um pouco feliz com a chance de o Flamengo perder aquele que foi seu melhor jogador em 2021.
Paro então para tentar compreender o que sinto.
Acho que poucos jogadores hoje representam o nosso futebol como Michael, mas tem mais do que isso. Em um período de grandes tristezas e desafios, Michael representa muito mais do que um atleta marcado por características que gostamos de chamar de nossas: ofensivo, driblador, ousado, criativo, incansável. Para além disso, Michael é um dos nossos também fora do gramado.
Em 2020, quando se sentiu deprimido e foi invadido por sentimentos suicidas, Michael foi fazer uma das coisas mais difíceis que um homem pode fazer: pedir ajuda.
Pedir ajuda não é simples para ninguém, mas o machismo que obriga todos os homens a suportarem calados o peso do mundo em suas costas, deixa tudo mais difícil.
Mas Michael foi valente e pediu ajuda. E o Flamengo foi enorme: não apenas o time, mas também a comissão técnica não mediu esforços para acolher o jogador. Isso tudo aconteceu quando Jorge Jesus estava na Gávea e foi relatado por Michael ao "Canal Barbaridade".
A história depois disso a gente conhece: Michael superou a depressão e, em 2022, se tornou o melhor jogador em meio a um time de muitos craques.
A valentia de Michael não foi apenas a de dizer aos colegas "não estou bem". Ele seguiu sendo corajoso ao revelar publicamente o que sentiu e poder, assim ajudar tantos outros.
É bastante complicado você ter esse tipo de bravura numa sociedade que todos os dias diz que homens podem ser tudo, menos parecer um ser fragilizado. O recado é para engolir o choro, não se deixar atravessar por sentimentos considerados pouco nobres e tão ligados às mulheres - essas sim podem se mostrar frágeis em público. Aliás, devem. Qualquer indicação de potência é considerada indelicadeza, desvio, insanidade. Michael mandou a convenção às favas e ousou se mostrar vulnerável. Ele certamente saiu da experiência um homem mais forte, mais sensível e mais humano.
Michael é o tipo de pessoa que faz bem a um time, seja jogando, seja no banco, seja treinando. Não se abre mão de um cara como ele se a ideia é recuperar a competitividade perdida. A gente gosta de dizer que o futebol é maior que a vida e a vida, marota, oferece muitas oportunidades para que a gente prove o que diz. Eis ai uma boa oportunidade, Flamengo.
Tudo, claro, imaginando que Michael não esteja louco de vontade de ir morar na Arábia Saudita e embolsar uma grana que deve ser muito boa. Porque se for esse o caso, vai em paz e arrasa, Michael. Você é enorme e sentiremos sua falta. Quando voltar, considere a possibilidade de vestir a camisa corintiana. Eu ia amar te ver por lá.
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