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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milly: Narração inédita de Renata Silveira na Globo ecoa milhares de vozes

Renata Silveira, narradora da TV Globo - João Cotta/Globo
Renata Silveira, narradora da TV Globo Imagem: João Cotta/Globo

Colunista do UOL

09/02/2022 17h03Atualizada em 10/02/2022 09h02

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Nenhum direito social é oferecido de bandeja por quem está no poder. A história das conquistas por espaço e visibilidade dos mais variados grupos é uma história de lutas, de batalhas, de sofrimento, de perdas e de derrotas. Quantos fracassos fazem parte de uma conquista? Muitos, e eles dizem respeito a multidões e não a indivíduos.

Quando Renata Silveira escreve seu nome como a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na Globo ela está colocando todos os nossos nomes ali. Não apenas os nomes das mulheres vivas hoje, mas os de todas as que já passaram.

O nome das que lutaram por direitos sexuais, por direitos civis, por direitos trabalhistas. O nome das mulheres que, ao seu tempo, derrubaram muros através dos quais pudemos passar. Obrigada Renata. E obrigada Maria Esther Bueno, Maria Lenk, Sissi, Formiga, Lelia Gonzalez, Marielle, Leila Diniz, Dandara. São tantos e tantos nomes que poderíamos passar dias nesse ritual de agradecimentos.

O nome das gerações de mães e avós que vieram antes de Renata em sua própria família e que, mesmo sem saber, estavam lutando todas essas lutas simplesmente ao seguirem existindo.

Renata estava ali nesse 9 de fevereiro de 2022 homenageando todos os sobrenomes apagados pela tradição patriarcal. Os sobrenomes de nossas mães, avós, bisavós, tataravós.

Estava ali por toda mulher que viveu e morreu amando um esporte que até ontem nos detestava e que hoje, ainda que não nos ame, nos detesta um pouco menos.

A voz de Renata é a nossa voz. Não apenas das mulheres que trabalham com esporte, mas das mulheres que desejam. A voz de Renata inaugura sonhos possíveis. É a voz que faz a criança de hoje imaginar a mulher de amanhã.

Criar espaços para sonhos é coisa demais nesse mundo.

Mas não se enganem. Nada, nada, nada nos foi dado. É tudo luta, é tudo conquista.

Voa, Renata. No teu voo, nossas histórias alcançam o que até ontem era impossível.