Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Milly: Corinthians feminino joga muito mesmo quando não joga bem
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Corinthians e Grêmio decidiram a Supercopa do Brasil em Itaquera nesse domingo 13 de fevereiro. Diante de 20 mil pagantes, o dois times colocaram em campo seus estilos de jogo: Grêmio numa marcação forte, Corinthians no jogo de rápidas triangulações. Muitas chances de gol para o Corinthians, poucas de gol para o Grêmio, mas era essa a proposta gaúcha: jogar por uma bola.
O time do Corinthians, cheio de craques, apesar do domínio, não achava um meio de estufar a rede tricolor. A lateral esquerda corintiana, Yasmin, foi o destaque do time de estrelas. Incansável, dona de um chute potente, capaz de colocar a bola onde quer dentro da área, Yasmin correu sem parar debaixo de um sol que castigava.
O time feminino do Corinthians está na moda e a diretoria acerta investindo nele. O caminho é esse porque o futebol feminino só faz evoluir.
Acho sempre engraçado quando comparam o futebol feminino ao masculino, uma comparação que não nos serve nem para fins de elogio. Vejam, o futebol feminino nasceu de forma oficial apenas ontem em tempo histórico. Fomos proibidas de jogar por anos e, quando a lei foi extinta, tivemos (e ainda temos) que driblar incontáveis preconceitos e obstáculos para existir. O futebol feminino só pode ser comparado a ele mesmo e a sua impressionante evolução a partir do momento em que decidiram investir o mínimo nele.
Comparações mal feitas podem comprometer muita coisa. Por exemplo quando dizem que "mulheres falam muito" estão nos comparando não ao quanto falam os homens (que falam demais e falam sem parar e exclusivamente há muitos muitos anos), mas sim a séculos de silenciamento da voz feminina. Diante disso, a frase "mulheres falam muito" quer na verdade dizer "mulheres estão falando muito". Essa é a comparação que deve ser feita, e ela muda tudo.
Então, sim, estamos falando. Falando e jogando muito. E é apenas o começo. Nessa caminhada, aliados são bem-vindos.
Claro que o caminho é longo e tudo ainda precisa de muitos ajustes. A linguagem principalmente. Seria maravilhoso por exemplo que comentaristas homens parassem de se referir às jogadoras como "meninas". Usar "meninas" infantiliza o que está em jogo. Não são meninas: são mulheres, profissionais da bola, e uma das ferramentas do machismo é, sempre que possível, infantilizar o feminino. A linguagem também precisa adotar o feminino e deixar ir o masculino. "Mano a mano" vai ter que ser criativamente adaptado e assim por diante.
É uma chatice mesmo tocar nesses pontos, mas, infelizmente, ainda é necessário. A luta feminista passa também pela linguagem.
Quando o jogo já ia para os penaltis Gabi Zanotti achou seu gol e o estádio explodiu. Justo, justíssimo. Mas todos sabem que futebol não é sobre justiça. É sobre luta, sobre a vida, sobre dar algum sentido ao que estamos fazendo aqui. O Corinthians do Arthur Elias joga muita bola. Joga tanto que joga bem mesmo quando joga mal.
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