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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milly: A íntima e histórica relação entre o futebol e a Guerra

Refugiados jogam futebol na Praça Vermelha, em Moscou - Gleb Garanich/Reuters
Refugiados jogam futebol na Praça Vermelha, em Moscou Imagem: Gleb Garanich/Reuters

Colunista do UOL

24/02/2022 11h52

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Diante da possibilidade de o mundo estar entrando em uma situação de Guerra, achei que poderia falar um pouco da relação entre esse jogo que amamos e as batalhas.

O futebol, ao contrário do que se repete, não foi inventado na Inglaterra. Na Inglaterra ele foi codificado e regulado, mas não inventado.

Os primeiros registros de um jogo no qual o papel de bola era desempenhado por um crânio ou até pela cabeça de um inimigo, são da China lá pelos anos 3 mil antes de Cristo.

O exercício era muitas vezes usado em treinamentos militares. Há também indicações de que, em outras regiões incluídas aí as Américas e a Europa, o jogo determinava quem ia viver e quem ia morrer.

Há outros registros nos quais só se matava o capitão ou líder do time, mas aqui o curioso é que se tratava de um ritual de sacrifício e que o capitão a ser morto era o do time vencedor. Ao ganhar, ele oferecia a vida ao sagrado e o gesto era considerado grandioso e até desejado.

Depois de ser codificado por ingleses, o futebol perdeu suas características bélicas, mas nunca deixou de ser uma metáfora para a Guerra. Vejamos, por exemplo, a linguagem que usamos para falar do jogo, uma linguagem carregada de violência simbólica.

Um chute pode ser um tiro, um petardo ou um canhão.

O penalti, aliás, é batido tomando-se uma distância que poderia ser a de um fuzilamento.

O jogo é uma batalha, o rival é o inimigo e o objetivo é eliminá-lo.

Há aqueles que tenham boa pontaria e quem marca mais gols é o artilheiro que, quando é bom, acerta o alvo.

O jogo é feito de tática e estratégias e os ataques podem se dar pelos flancos. Ganhar é bom, mas massacrar o inimigo é ainda melhor.

Combater. Avançar. Recuar. Liquidar. Furar bloqueios. Dominar as ações.

Para saber mais recomendo três livros: Futebol Ao Sol e à Sombra, de Eduardo Galeano. Veneno Remédio, de José Miguel Wisnik. E A Dança dos Deuses, de Hilário Franco Junior.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL