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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não se combate racismo no departamento de marketing

Grazi, do Corinthians, comemora gol levantando o punho cerrado, contra ato de racismo - Reprodução
Grazi, do Corinthians, comemora gol levantando o punho cerrado, contra ato de racismo Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

28/04/2022 16h27

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Felipe Cruz, de 23 anos, foi uma das vítimas diretas do racismo de torcedores do Boca. Ele foi um dos que chamaram a Policia Militar, foi um dos que perderam o jogo porque precisou ir à delegacia acompanhar o meliante argentino. Felipe é corintiano desses que gasta com o time: camisa, ingresso e sabe-se lá mais quantas coisas o rapaz consome para sair por aí declarando seu amor pelo Timão.

Felipe certamente viu o Corinthians se mostrar indignado em suas redes sociais. Viu o clube do seu coração dizer que racismo não pode, viu o Corinthians elogiar a PM que teria agido rápido. O que Felipe não viu foi o Corinthians o procurar. Nem mesmo viu o time oferecer ajuda legal ou amparo emocional. Do que adianta ser rápido para escrever nota de repúdio e ignorar seu torcedor que foi abusado dentro de uma casa que ele gostaria de chamar de sua?

Não se combate o racismo com palavras bonitas, nem mesmo elogiando a PM. Não se combate o racismo tendo ideias de slogans dentro de salas fechadas cheias de executivos brancos. Não se combate com hashtags, nem com camisetas.

Racismo se combate com atitudes. Amparar Felipe seria pedir o mínimo. O máximo seria um planejamento de ações ao longo o ano. Palestras, aulas, visitas às periferias, treinos abertos a não-sócios, formação de um conselho de ativistas negros e negras. Pensar numa ação na qual a cada gol todos erguessem seus punhos e convidassem o torcedor a fazer o mesmo, emulando o gesto criado pelo partido dos Panteras Negras em sua cruzada contra o racismo e os racistas. Por aí.

Quanto a Felipe, se o Corinthians não pôde responder ao seu torcedor na mesma hora da agressão, então, no dia seguinte, poderia ter pensado em chamar Felipe para um treinamento, oferecido uma camisa nova, ingresso para o próximo jogo, uma viagem para ver o time jogar fora de São Paulo... ideias não faltam. O que falta é respeito e empatia.

O Boca "estuda" o que fará com seu racista de estimação. O Corinthians "estuda" como responder a Felipe Cruz. O clube estaria "estudando" se o argentino tivesse ofendido um super sócio-torcedor dentro de um dos luxuosos camarotes da Arena? Fica o questionamento.

Palavras desassociadas de intenção soam vazias. Não cabem mais. Time do povo, dizem. De que povo, Felipe deve estar se perguntando.

Escrevi mais sobre o caso de racismo envolvendo o torcedor do Boca nesse texto aqui.