Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O Vasco em acelerado processo de encantamento
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Talvez tenha sido a inauguração da estátua de Roberto Dinamite. Talvez tenha sido o eclipse, ou o encontro de Júpiter e Vênus em Peixes. Jamais saberemos o que foi, mas me parece evidente que alguma coisa mudou no céu vascaíno. Dinamite homenageado com festa e estátua na quarta, vitória sobre a Ponte na quinta diante de um estádio em transe e, na sexta de madrugada, chegada à cidade de Muriaé sob calorosa e frenética recepção de uma torcida em delírio.
O Vasco vai jogar no domingo a quinta rodada da série B, o time ainda não encaixou um jogo que consiga transmitir confiança mas a torcedora e o torcedor decidiram que não importam os fatos: importa amar e demonstrar amor. Importa o presente. Importa lotar São Januário num jogo noturno da quarta rodada da série B e celebrar o único gol como se fosse gol de título mundial.
É disso que se trata. É esse encantamento que muda destinos. Quem pode dizer o que vai nascer desse transe coletivo diante de destino incerto? Como os jogadores serão impactados? Em que medida se deixarão penetrar por essa devoção que vem de fora?
Seria interessante que os novos proprietários do Vasco, sócios de uma empresa especializada em atividades financeiras com sede em Miami, quisessem entender o que é o futebol brasileiro e o que é o Vasco da Gama. Seria importante que os executivos dessa organização se misturassem à torcida, enxergassem o amor de dentro para fora e, uma vez em campo, olhassem para cima e se colocassem em posição de prece aos pés da torcedora e do torcedor, como quem entende o que é sagrado e o que tem valor nessa camisa.
Demonstrar amor quando o time virou uma máquina e parece estar numa trajetória de conquista das Américas não é assim tão difícil. Demonstrar amor nas situações mais complicadas é uma outra conversa. Deixar que esse amor transborde em êxtase e catarse pelas coisas mais mundanas, como a chegada de um ônibus a uma cidade mineira em plena madrugada, aí sim temos um arco dramático dos melhores.
O campeonato é longo e desafiador. Tudo pode acontecer, mas talvez o essencial já tenha acontecido: a torcida fez girar um circuito de paixão e encantamento que pode mudar destinos.
O Vasco é gigante e ele vem aí. É bastante provável que em 2022 essa torcida faça história. E a pergunta que fica é: esse país está preparado para a festa que a vascaína e o vascaíno farão quando o time voltar à primeira divisão?
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