Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
E se não ficar provada a injúria racial?
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Tenho escutado muita gente ponderar que, no caso de a perícia não provar que Rafael Ramos disse a palavra "macaco" para Edenilson, que o jogador do Internacional então deveria sofrer alguma punição, um processo, qualquer ação que possa fazer ele pagar por ter prestado queixa contra Ramos.
Eu discordo de quem pensa assim e vou explicar por que.
Se não ficar provado que Ramos cometeu a injuria racial, ainda assim deve-se considerar que Edenilson pode ter escutado equivocadamente a palavra "macaco" sendo dirigida a ele. Só isso poderia explicar o visível abalo emocional e a insistência em levar o caso adiante. É preciso estar muito machucado para decidir fazer um boletim de ocorrência e passar por toda a jornada que uma atitude como essa inaugura.
São tempos brutais, o racismo é um preconceito real, cotidiano, estrutural e inescapável e é apenas natural que um atleta negro, no calor de um jogo, possa se sentir atingido por algum tipo de ofensa racial que, depois, não se prova verdadeira.
Por isso, eu considero que seria muito cruel submeter Edenilson a qualquer tipo de punição no caso de não existirem provas suficientes para condenar Ramos.
Tenho também escutado pessoas dizendo que Ramos vai "provar sua inocência", e essa frase sempre me bate estranha porque inocência não se prova. Não podemos provar uma negativa. Não podemos provar que "não fizemos isso ou aquilo". Assim como não se prova uma intenção. O que se prova é a ação, o ato, o gesto, a palavra, o crime.
Na falta de provas, no caso de a perícia não ser capaz de assegurar que a palavra "macaco" foi dita pelo lateral corintiano, Ramos sai do episódio exatamente entrou: com a presunção de sua inocência.
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