Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
FIFA escancara hipocrisia ao celebrar o mês do orgulho LGBTQ
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A Copa do Mundo do Qatar não tolerará bandeiras LGBTQs. Se um torcedor ou torcedora quiser desafiar a ordem, terá o bem confiscado e pode ser detido ou detida.
Digamos que é uma pena até branda para ações relacionadas à homossexualidade, considerada crime capital punível com pena de morte no país. Então, ter a bandeira confiscada e ser levado a prestar um depoimento fica barato diante da alternativa de ser fuzilado (é assim que são executadas as pessoas condenadas à morte da ditadura do Qatar).
Outra dica para quem está pensando em ir ver o torneio: demonstrações e afeto não serão toleradas, dizem os organizadores. Nem de homem com mulher, nem de homem com homem, nem de mulher com mulher.
Quem define o que é uma demonstração de afeto? Um abraço apertado e demorado entre dois amigos depois do gol? Mãe e filha jovem trocando um cafuné? Não sabemos. O que sabemos é que o amor está proibido no Qatar. Quer demonstrar afeto? Se tranca num quarto.
Claro que se um homem beijar uma mulher no estádio isso dificilmente resultará em detenção. Mas e se duas mulheres e beijarem? O que pode acontecer com elas?
"Venham, mas não exibam seus amores" é uma declaração que deveria ser considerada criminosa. A invisibilidade é precisamente o que nos mata, nos sufoca e exclui. O que não pode ser visto não existe. Lutamos justamente por visibilidade e decisões como essa configuram homofobia em grau máximo. "Queremos seu dinheiro, não seus afetos. Venham, gastem e depois voltem para seus esgotos".
É assim a vida no país escolhido pela FIFA para sediar uma Copa do Mundo de futebol masculino.
Essa mesma FIFA está agora se assanhando para celebrar o mês do orgulho LGBTQIA+. Fotos, frases, postagens.
Não cola, FIFA. Não mais. Queremos ações.
Queremos que países LGBTfóbicos sejam excluídos da lista de possíveis sedes. Sai Russia, sai Qatar, sai Ucrânia, qualquer país que não tiver leis claras criminalizando a homofobia.
Queremos um plano de apoio psicológico a jogadores que desejem se assumir publicamente. Queremos campanhas de incentivo, de proteção, de encorajamento.
Queremos saber quantos funcionários assumidamente LGBTQ trabalham na FIFA em todo o mundo, e queremos leis de cotas por inclusão no futebol que a senhora dona FIFA comanda.
Podem dobrar suas bandeiras se elas forem apenas ações de marketing no mês da visibilidade LGBTQIA+.
Ou vocês entram nesse jogo pra valer, ou param de nos chamar de trouxas e deixem que a gente siga lutando aqui do lado de fora porque, de um jeito ou de outro, o mundo segue mudando e vocês, suas políticas excludentes e alianças covardes também mudarão. Não tem volta.
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