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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que você deveria assistir ao documentário sobre Casagrande

Sócrates e Casagrande jogaram juntos no Corinthians de 1980 a 1984 - Reprodução/Instagram
Sócrates e Casagrande jogaram juntos no Corinthians de 1980 a 1984 Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

16/06/2022 12h04

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O documentário sobre a trajetória de Walter Casagrande feito pela sensibilidade poética da cineasta Susanna Lira é, acima de qualquer coisa, uma história de amor.

É uma história de amor entre homens que têm a coragem de se amar. O relacionamento entre Casão e Sócrates é lindo, cheio de intensidade, de parcerias, de afastamentos e reencontros.

Imagens potentes de celebrações de gol e de abraços apertados entre eles, cenas em que ambos estão num mesmo palco lutando por eleições diretas, declarações públicas de amor.

O documentário é também a história de um homem que não sabe o que fazer com tanta intensidade, com tantas paixões e com tanto ímpeto para lutar. Casão encontrou no futebol uma necessária válvula de escape, mas ela não bastou.

A morte absurda e precoce de uma irmã que era também uma parceira de vida conduziu o adolescente ao desejo de viver perigosamente.

A intensidade que era sua característica natural - e que o ajudou a ser o atacante que foi - se misturou a uma espécie de negligência diante do risco de morrer cedo. Essa mistura foi explosiva e o jovem atleta ia buscando, entre um gol e outro, novas formas de se encontrar com delírios e êxtases.

O mergulho no inferno das drogas e a improvável jornada rumo a uma porta de saída levam a gente a se identificar com ele, com sua dor, sua luta. Quem nunca lutou contra um vício? Quem nunca se entregou à servidão voluntária que só as paixões destruidoras podem produzir?

Casão foi salvo pelo amor que sente pelos três filhos e redirecionou sua paixão e sua intensidade na luta por justiça social.

É a jornada de um heroi, com todos os elementos que os mitos carregam: alguém que sai em uma aventura, se encontra com dragões, é obrigado a lutar e, ao vencer e voltar, resgata um pouco de todos e de todas nós narrando a si mesmo.

Se não tivesse sido atleta, Casão não estaria mais por aqui. Seu coração só aguentou as pancadas sem explodir - como a gente vê no documentário - porque tinha sido trabalhado para que ele se tornasse um dos grandes jogadores do nosso futebol.

O documentário "Casão num jogo sem regras", que está disponível no Globoplay, é lindo, potente e comovente. Casão é um reservatório de amor e de honestidade afetiva. Aproveitem o feriadão e se entreguem a desvendar todas as dimensões desse gigante chamado Walter Casagrande.