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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gaviões: "A diretoria do Corinthians parece odiar o corintiano"

Torcida do Corinthians faz festa em treino aberto na Neo Química Arena - Reprodução/SCCP
Torcida do Corinthians faz festa em treino aberto na Neo Química Arena Imagem: Reprodução/SCCP

Colunista do UOL

08/07/2022 11h30

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"A diretoria do Corinthians parece odiar o corintiano". Começou assim a nota de protesto redigida pela Gaviões da Fiel a respeito do treino "aberto" que o time fez apenas para sócios torcedores - ou para o fiel torcedor, no caso.

"O Corintiano pé de chinelo, o corintiano da Zona leste, o corintiano que vem de longe, o corintiano que segue o time onde o time for, o corintiano que dá o sangue a sua energia para ficar perto do time. Esse não interessa para a diretoria do Corinthians, ela só quer saber do consumidor", diz também a nota que segue por mais parágrafos em tom indignado. Ao final, "ou o treino é aberto a todos ou não é pra ninguém".

Está certa a Gaviões.

A ideia de que tem preferência quem pode pagar é uma ideia miserável. Tem como base a ficção da meritocracia. "Deu duro, mereceu chegar onde chegou".

Essa não é a realidade do Brasil. As pessoas que conheço que mais "dão duro" são pobres e dificilmente deixarão de ser.

Algumas das pessoas mais preguiçosas que conheço, nasceram ricas e, por mais que vivam sem fazer muita coisa ou investindo mal, jamais deixarão de ser.

O Corinthians não pode se chamar de time do povo e agir reforçando o teatro da meritocracia.

Não existe treino aberto apenas para quem paga, consome, gasta. Isso é treino fechado para o Fiel Torcedor.

Treino aberto é treino em que todos e todas têm o mesmo direito para tentar um lugar.

Se seguir nessa toada elitista e classista, o Corinthians vai perder o que tem de melhor: a sua torcida. O torcedor-raiz. O pé-de-chinelo, como diz a nota.

Não há como seguir usando "time do povo" e "democracia" se utilizando de ficções como a meritocracia.

É preciso encontrar um jeito de valorizar o pé-de-chinelo que não pode pagar. É preciso celebrar esse cara e essa mina, e não apenas o Fiel Torcedor.

O Corinthians gosta de dizer que é diferente, mas se continuar agindo igual aos demais vai deixar de ser em pouco tempo.

As torcidas organizadas precisam ser escutadas.

É necessário estar junto a elas, saber o que está ruim, o que pode melhorar.

É o pé-de-chinelo que leva ao estádio a potência de vida pela qual a torcida é mundialmente conhecida. Não percam ele e ela de vista.

Depois do protesto, a diretoria abriu o treino dessa sexta à noite e em menos de uma hora os ingressos se esgotaram.

O Corinthians treinará nesse 8 de julho sob a benção de 40 mil torcedores. É coisa demais. É vida demais. É patrimônio demais.

Dessa relação de amor e afeto, tudo pode nascer. Aproveita, Corinthians.

Atualização:

A Gaviões decidiu não ir ao treino-festivo quando a presença da PM com revista na entrada foi anunciada. Está outra vez certa a Gaviões. Onde tem PM não tem festa do povo; e o Corinthians é o time do povo - pelo menos no slogan usado pelo marketing.