Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Enterrar a falsa simetria para que ela não nos enterre
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Um bolsonarista entra armado em festa de aniversário de petista e, segundo testemunhas, verbalizando o nome de seu heroi ("aqui é Bolsonaro", teria gritado o invasor), atira para matar o aniversariante que celebrava seus 50 anos cercado de motivos lulísticos: bolo, toalha, cartazes.
O que invadiu a festa fez arminha de verdade com a mão; o que foi alvo fazia o L para fotos.
O alvejado teve tempo de reagir - o que a lei chama de legítima-defesa - e ferir seu agressor.
Não tem nada de polarizado nessa cena de horror.
É tragédia. É agressão. É assassinato com legítima defesa.
Não vamos confundir a reação da vítima com a premeditação do assassino. Não vamos misturar a alegria da vítima com a fúria do matador.
Não existe polarização se um candidato fala em metralhar adversários e o outro fala em paz.
Chamar as eleições de polarizadas é desonesto. São eleições violentas - e a gente ainda vai ver essa violência escalonar.
Bolsonaro está convocando suas milícias à luta. Faz isso na cara de todos, declaração atrás de declaração - e seus devotos já estão nas ruas seguindo ordens.
É só o começo desse derramamento de sangue.
O outro candidato está falando em união, em voltar a sorrir.
Não existe imparcialidade diante desse horror que virou o Brasil.
Imparcialidade em tempos coléricos e fascistas é apoio ao fascismo fantasiado de sensatez.
A falsa simetria nos trouxe até aqui. Não era, afinal, uma escolha difícil.
Bolsonaro nunca foi candidato legítimo.
Legitimá-lo em nome de um anti-petismo doentio e covarde custou a vida de muitos - e custará outras.
A falsa simetria está nos matando.
Passou da hora de assumirmos posição a favor da vida, da democracia, de alguma mínima ideia de decência e de futuro.
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