Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Que emoção na vida se compara à da virada no fim do jogo?
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Eu não sei quantos anos tinha, talvez sete, quando soube o que era uma virada de jogo. O Fluminense enfrentava o Botafogo - poderia ser outro time, mas quem se lembra? - e meu pai e eu estávamos no Maracanã.
Dessa vez, não sei dizer por que, estávamos nas cadeiras e não na arquibancada como de costume. De forma bastante soberana, o Botafogo fez dois a zero no primeiro tempo. No intervalo, olhei para o meu pai como quem diz: acabou, mas não fica triste.
Eu sabia que a derrota tricolor o deixava de cabeça baixa, então tentei evitar. Mas ele não estava triste e apenas me disse: "não acabou, Bilu" (ele sempre me chamou assim).
Ele então me explicou que dois a zero era um placar tinhoso (meu pai adorava essa palavra) porque se o time que está perdendo faz um gol, o outro sente o baque e abre espaço para o empate. Daí para a vitória é caminho curto. "Chama virada", ele me contou. Fez sentido, mas parecia impossível de acontecer naquele dia. O Botafogo era muito superior, eu não via como o Fluminense poderia fazer valer as palavras de meu pai.
Só que, quis o tinhosíssimo destino, eu estava prestes a testemunhar a primeira virada da minha, até ali, pequena vida.
A força da lição verbal seguida da lição prática me atingiu como um tsunami emocional. Que jogo cheio de possibilidades era aquele?
A compreensão de que a virada é um sentimento único no futebol foi absorvida com impacto. Ganhar é bom, mas ganhar de virada é mil vezes melhor. De virada no finalzinho é um transe catártico que muita gente busca de outras formas na vida, mas que o futebol oferece sem outros riscos a não ser o do vício.
Toda torcedora e todo torcedor sabem que sensação é essa. Já vi viradas memoráveis do meu time, e também dos rivais.
Palmeiras e Vasco em 2000 é jogo inesquecível: três a zero no primeiro tempo para o Palmeiras; 4 a 3 no segundo para o Vasco. Teve um São Paulo e Botafogo no Morumbi que eu escutei pelo rádio e que também foi totalmente emocionante. Acho que foi em 1981, eu escutava com meu pai, e outra vez ele me disse debochado: "viu só! Dois a zero, Bilu. Perigosíssimo".
Corinthians e Cianorte pela Copa do Brasil: uma experiência de delírio e suspensão que não pode ser traduzida em palavras; foi preciso estar no Pacaembu para acreditar.
Essas são apenas algumas das que eu me recordo, mas posso puxar pela memória muitas outras.
Mais do que a lembrança do placar, dos números, de quem jogou melhor, de quem fez os gols etc o que volta pra mim é a emoção.
A mesma euforia que bate no dia seguinte de uma noite de furor com a pessoa que amamos. Uma espécie de suspenção no tempo, o sentimento de que tudo faz sentido e de que nada precisa ser explicado, apenas experimentado.
O Corinthians de Fabio Santos me devolveu um pouco esse estado de espírito contra o Galo dentro de um Mineirão lotado e pulsante.
Existem jogos que se eternizam neles mesmos, alheios ao contexto e ao campeonato em questão.
São esses momentos que, no jogo e na vida, nos mantém alertas, confiantes, delirantes e apaixonados.
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