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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ciro Gomes, o candidato "credo, que delícia" que não suporta o outro

Foto de 2018 mostra o pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, discursando em evento - José Cruz/Agência Brasil
Foto de 2018 mostra o pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, discursando em evento Imagem: José Cruz/Agência Brasil

Colunista do UOL

16/08/2022 12h26

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Ciro Gomes é homem de inteligência inegável. É também político moderno que circula ideias ousadas e sensatas do ponto de vista econômico e social. Entende as causas da imoral desigualdade em que nos metemos e tem boas propostas para atacar o problema.

Mas Ciro Gomes não tem nenhuma tolerância para as outras pessoas.

Ciro não suporta opiniões contrárias, não consegue se controlar quando é contestado ou interrompido - especialmente por mulheres -, não é capaz de esconder a masculinidade tóxica que o inunda.

Isso tudo fica visível mesmo quando Ciro tenta se controlar para não dar ainda mais cores à fama de destemperado.

O Ciro que esteve no Roda Viva nesse 15 de agosto foi deseducado inúmeras vezes, e era um Ciro que estava se esforçando muito para se manter na linha.

Mas ser grosseiro, impaciente e deselegante é mais forte do que ele.

O comportamento indelicado acaba ofuscando algumas de suas boas ideias e projetos, transformando ele numa espécie de candidato "credo, que delícia".

Sua inteligência acima da média não oferece espaço para o que considera estupidez, burrice, lentidão de raciocínio.

Exige que as pessoas pensem como ele e, quando não é capaz de convencê-las, fala mais forte e mais rapidamente, deixando escapar uma tendência colonizadora e autoritária que precisam ser urgentemente extintas desse mundo.

Passar assim pela vida não seria um problema para ele: nessa sociedade machista e misógina essas características são valorizadas.

E, a bem da verdade, esse comportamento imperativo poderia ser útil se elevado ao posto máximo do funcionalismo público num país dominado por politiquices, politiquetes, milícias e milicianos.

Só que, agindo sempre de forma afrontosa, Ciro não consegue se conectar com o interlocutor, com quem o escuta, com quem o vê, com quem tem poder de voto.

É uma pena para o Brasil porque Ciro poderia ser um grande presidente se não estivesse grávido desse destempero tão masculino, tão colérico, tão ameaçador, tão constrangedor.

No cenário eleitoral atual, tendo menos de 10% das intenções de voto, não é convidativo pensar em votar em alguém que se comporte desse jeito agressivo numa simples entrevista.

A menos, claro, que o adversário seja Jair Bolsonaro. Comparado ao atual mandatário, Ciro é de uma sensibilidade e delicadeza absurdas.