Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Uma visita à alma do torcedor e da torcedora de futebol no Brasil
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Fui convidada para fazer parte da comissão julgadora de um concurso de crônicas esportivas promovido pelo Museu do Futebol, em São Paulo. Aceitei de imediato e fiquei bastante surpresa com a quantidade de inscritos: ao todo, quase 500 pessoas enviaram suas criações.
A leitura foi um prazer imensamente revelador.
De cara, a constatação de que muitos têm mais de um time e de que o amor não se divide, pelo contrário. A descoberta fez eco com pesquisa lançada recentemente que apontava que há quem torça para mais de um time, e há quem goste igualmente de clubes rivais.
As crônicas me fizeram perceber que tem também pessoas que viram casaca sem nenhuma cerimônia, e o fazem movidos e movidas por amor. Lendo os depoimentos fica difícil dizer que a troca não é honesta ou legítima. O texto vencedor trata justamente dessa questão.
Tem quem vá ao estádio para sentir a presença de pessoas que já morreram, quem vá ao estádio para, como disse Galeano, mendigar uma boa jogada, quem siga torcendo mesmo sem ver mais o seu time porque já não tem dinheiro para ingressos ou canais fechados.
A alma do torcedor e da torcedora de futebol no Brasil não é apenas a do fanático, a do valente, a da pessoa que ama um time na igual proporção do ódio que sente pelo rival. O futebol é um poderoso circuito de afetos que une muito mais do que separa, que trata de amor muito mais do que de raiva.
Assim como a vida, o jogo é valorizado pelo que ele tem de menor, e não pelo que podemos considerar maior, mais grandioso, mais poderoso.
Não é o consolidado que cria a paixão, mas sim o miúdo, o pequenino.
É um lance, uma ida ao estádio num sábado qualquer, uma torcida composta por meia dúzia que vibra mesmo na derrota.
A forma como o futebol é enxergado e administrado hoje, sempre colocado como empresa, sempre associado a boas ou más gestões, não representa nem absorve toda a mobilização de afetos que ele é capaz de gerar e fazer circular.
Foi bastante difícil escolher as crônicas vencedoras. Me emocionei demais lendo alguns textos, ri de histórias muito reais e muito nossas mas, acima de tudo, fui lembrada do que é, na raiz, o futebol brasileiro.
Agradeço às pessoas apaixonadas que fazem o Museu do Futebol ser o que ele é e que, com isso, todos os dias nos lembram o que podemos ser.
A revista Placar publicará a crônica vencedora e muitas das outras poderão também ser lidas em breve no Museu do Futebol, em São Paulo.
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