Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sobre Tchutchucas e PQPs
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O que sentir quando um rapaz se aproxima do pior presidente da história do Brasil e o chama de "tchutchuca do centrão" para, em seguida, assistirmos a um descontrolado Bolsonaro tentar arrancar o celular do jovem e, assim, se afundar ainda mais no fosso da indecência, da vulgaridade e da descompostura?
De imediato, prazer por ver Bolsonaro mostrar, mais uma vez, quem de fato é e o que representa.
Em seguida, notando a repercussão e o gozo com que se repete "tchutchuca do centrão", eu paro e decido escrever sobre o termo.
Tchutchuca é uma associação depreciativa ao universo do que se considera feminino: fraqueza, vulnerabilidade, passividade. Levar o feminino para o campo do que é menor e desprezível configura misoginia na letra.
"Não é mais pra falar, então?", indagam amigos.
Eu responderia que, se for para continuar a usar, que pelo menos tenham consciência do que está sendo dito e quais valores essas palavras estão reforçando.
Eu mesma ainda sinto prazer escutando Bolsonaro ser colocado nesse lugar que é, para ele, o mais absolutamente ignóbil possível: o do universo das coisas femininas. Esse ambiente em que ele é associado a fraquejadas o transtorna como nenhum outro.
Então, também em mim existe essa contradição entre prazer e repulsa.
Por isso, eu diria que, nesse momento, ter a consciência do que está sendo dito e do que essas palavras fazem com a vida das mulheres, bastaria.
O que me leva à outra questão: o "puskas que o pariu" dito pelo narrador Gustavo Villani depois do golaço de Pedro, do Flamengo, que todo mundo entendeu - inclusive eu - como um sonoro "puta que o pariu".
"Puta que o pariu" talvez seja o palavrão que eu mais use.
Acredito que um palavrão bem colocado tem função redentora e libertadora, e eu argumentaria que o de Villani foi muito bem colocado.
O gol de Pedro foi, de fato, um gol "puta que o pariu" e Villani foi criativo para adaptá-lo ao decoro trocando "puta" por Puskas.
Mas, usando a lógica da primeira parte do texto, seria preciso que a gente parasse e se perguntasse por que os palavrões são sempre associados ao feminino, a fraquezas, a mulheres?
Tenho tentado rever meu uso de palavrões. Criar novos. Buscar alternativas. Desbloquear minha imaginação.
Eu diria que esse é o exercício para hoje.
Parar de falar não vai acontecer da noite para o dia. Mudanças significativas não são um evento; são um processo.
Por isso, por agora, ter a consciência talvez baste.
Eu, por exemplo, vou usar "capacho do centrão" para contar a história do são-paulino que encarou Jair Bolsonaro.
Até porque, no fundo, um mundo com mais tchutchucas e menos machões seria um mundo muito melhor.
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