Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A entrevista de Lula ao JN pode ser resumida a uma resposta dada por ele
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Se eu pudesse resumir entrevistadores e entrevistado em uma frase, ela seria essa: "Você precisa visitar uma cooperativa do MST, Renata".
Ela foi usada quando Renata Vasconscelos quis saber qual papel teria o MST num governo Lula.
Para entender a pergunta precisamos recorrer a Paulo Leminski: Repara bem no que não digo.
O que Renata não disse, mas nem precisava dizer, é que a pergunta é articulada pelo medo.
Um medo antigo, introjetado em nossas consciências desde muito antes de Lula: o medo dos comunistas, das invasões, de tirarem nossas casas, destruírem nossas famílias.
O medo, como ensina Safatle, como o afeto político central.
O que esperar do MST em seu governo, Lula?
Vão invadir? Destruir nossas famílias? Roubar nossas terras?
Seria importante parar e pensar a respeito desse tipo de sugestão.
Ou os comunistas são os invasores mais lentos e despreparados do mundo, ou essa sugestão ao medo sempre foi usada para nos paralisar, para aceitar ditadores alternativos, para nos submeter, nos curvar, nos sujeitar.
É esse o medo usado para manter as mesmas oligarquias no poder há séculos. O inimigo está a caminho. O inimigo vai destruir sua família. Invadir sua terra, sua casa, sua propriedade.
Convoco James Baldwin: fazem a gente ver filme de faroeste e nos encorajam a torcer para o cowboy sem nos dizer que somos os índios.
O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina (Lula disse que era o maior do Brasil, e ele errou).
O MST é uma organização social que instrui, educa, acolhe. Um Movimento que congrega 400 mil famílias organizadas em 160 cooperativas pelo Brasil.
Durante a pandemia, o trabalho do MST foi capaz de distribuir gratuitamente alimentos e refeições.
Ir a uma feira organizada pelo MST é passeio educativo, além de divertido.
A pergunta de Renata foi pequena e baixa. Mas a resposta de Lula foi larga e sonora.
É preciso pesquisar. Mas, mais do que isso, é preciso levantar e ir ver de perto o que é o Brasil.
No Jornal Nacional Lula teve que prestar contas de governos nos quais mais acertou do que errou. Foi perguntado sobre a violência da militância do PT semanas depois de um militante petista ser assassinado por um bolsonarista.
Foi perguntado sobre se usaria a lista tríplice em um eventual mandato sendo que foi o primeiro presidente a colocar a lista para jogo (Dilma também, verdade), coisa que FHC não fez (criando o Engavetador Geral da República) e que Bolsonaro, obviamente, ignorou.
Mas Bolsonaro não teve que responder perguntas sobre as aberrações que pratica com lista tríplice e sobre sua adoração à violência contra tudo aquilo que não se pareça com ele.
Essas perguntas foram reservadas a Lula.
A entrevista foi fraca sob o ponto de vista jornalístico. Mas foi boa para Lula que começou um pouco nervoso mas depois se soltou e, ao final, solou.
Bonner parecia zonzo quando encerrou.
Mas Renata não estava zonza.
Talvez porque, ao contrário do que aconteceu com Bolsonaro, foi respeitada como entrevistadora a despeito das péssimas perguntas que escolheu fazer.
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