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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Serena foi muito mais que atleta, é uma potência no mundo

Serena Williams em ação na terceira rodada do US Open de 2022 - Getty Images
Serena Williams em ação na terceira rodada do US Open de 2022 Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

02/09/2022 23h33

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Serena não foi apenas mais uma fora de série no tênis.

Serena foi a mais absoluta e elevada revolução no esporte.

Sua entrada em quadra mudou o tênis feminino de forma irreversível. Depois dela, nada jamais foi — e nem será — como antes.

Serena imprimiu ao tênis feminino uma potência inédita. Na força, na movimentação, na velocidade, na técnica, na graça, na coragem, no arrojo.

A chegada dela foi como se Martina, Graf, Higgins, Maria Esther e Evans tivessem se reunido em um só ser humano.

Quando Venus, sua irmã, estava começando, Richard, o pai de ambas, deu uma entrevista ao LA Times — isso lá por 1997 — dizendo que Venus seria uma multicampeã, mas que Serena, a caçula que ninguém ainda conhecia muito bem, seria a melhor tenista de todos os tempos.

Foi chamado de arrogante, de petulante, de delirante.

Mas o tempo mostrou que Richard estava certo.

Serena não foi apenas a melhor.

Serena foi a régua pela qual o tênis feminino passará a ser medido.

Foi divisora de águas, foi raio desestruturante e transgressor.

Mudou o tênis em quadra e fora dele com seu ativismo, seu empreendedorismo, sua adorável ousadia no desenho de novas roupas esportivas, sua articulada fala e inigualável coragem para se colocar — em quadra, em coletivas e na vida.

Ensinou que podemos pisar nesse mundo com força, não desviar o olhar quando nos encaram, rebater com raiva e no grito qualquer bola que vier em nossa direção, ser do tamanho que quisermos ser, usarmos as roupas que bem entender.

Tive a enorme honra de vê-la em quadra algumas vezes, e de vê-la treinar em uma ocasião no deserto da Califórnia.

Chegar tão perto de alguém como ela é ter a certeza de que a vida é mais do que as coisas que podemos enxergar e elaborar.

Pessoas como Serena têm órbita, atraem, emitem luz própria, dão uma dimensão do que podemos ser e fazer.

Chegar perto de alguém com essa estatura é desejar - e resistir ao desejo de - se colocar em posição de prece e apenas venerar.

É bastante possível que, assim como Pelé, não haja outra Serena.

Agora, com a aposentadoria, o segundo set da sua vida está começando.

Seremos testemunhas do que ela ainda fará.

Porque, ao contrário de Pelé, Serena Williams não veio ao mundo para parar de causar.