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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Alckmin cresce como possível chave para a vitória de Lula no segundo turno

O ex-governador Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula, durante sabatina UOL e Folha - Simon Plestanjak/UOL
O ex-governador Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula, durante sabatina UOL e Folha Imagem: Simon Plestanjak/UOL

Colunista do UOL

04/10/2022 09h57

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Não sou enxadrista de coisa nenhuma nessa vida, mas arrisco aqui prever um xeque-mate que pode ser o presente de Geraldo Alckmin a Lula e, portanto, ao Brasil democrático.

Muita gente alinhada a ideologias de esquerda questionou a entrada de Alckmin na chapa de Lula. Eu mesma não gostei da escolha.

Alckmin, duas vezes eleito governador do estado, tem uma história estranha (para dizer o mínimo e usar uma palavra leve) no combate violento a movimentos e manifestações sociais.

Mas eis que, no contexto atual, pode ser Alckmin o cara.

Isso porque Lula precisa de pelo menos mais dois milhões de votos - além de manter a base conquistada.

Onde buscar esses votos?

Talvez São Paulo e Rio Grande do Sul possam resolver a parada, e são esses justamente os dois únicos estados em que alianças com PSDBistas pintam como alternativas.

São Paulo é o maior colégio eleitoral do Brasil - concentra 22% da carga de eleitores, quase 35 milhões de eleitores aptos a votar - e tem uma história de simpatia profunda com Geraldo Alckmin.

No estado, Rodrigo Garcia, fora do segundo turno, tem bom capital simbólico e eleitoral a oferecer a Lula.

E mesmo que Garcia decida afagar a extrema-direita apoiando formalmente Bolsonaro, e assim afundando o PSDB um pouco mais no lodo ético em que se meteu, Alckmin tem diálogo com boa parte do eleitor de Garcia.

O trabalho terá que ser feito especialmente no interior, onde Bolsonaro teve mais votos.

No Sul, Eduardo Leite do PSDB, que foi para o segundo turno em votação apertadíssima, também terá muito a ganhar - e a oferecer - se fizer uma aliança com o PT.

Alckmin acabaria atuando como uma espécie de chanceler para estabelecer os pactos e ir às ruas.

Ele ainda é visto como alguém que legitima Lula diante de uma certa oligarquia e de uma boa parcela de eleitores órfãos de um PSDB minimamente mais sério e mais arredio aos métodos da extrema direita.

A direita democrática paulista vê em Alckmin uma validação para votar 13.

Não deixa de ser poeticamente justo.

Traído por Doria, abandonado pelo partido, tendo virado um político esquecido e desprezado, agora Alckmin desponta como peça chave nesse intervalo entre os dois turnos. Ganha importância e centralidade na reta final para, quem sabe, sacramentar uma vitória contra o fascismo que seria, pela urgência da causa, histórica.

Feito isso, subirá a rampa ao lado de seu ex-rival tendo dado uma tremenda volta por cima na vida.