Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Proibição de cerveja choca mais do que a da homossexualidade
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Nunca antes uma Copa do Mundo gerou tanta indignação antes mesmo de começar.
Quando, em 1978, a Copa foi realizada na ditadura argentina não sabíamos exatamente o que era a ditadura argentina. Havia suspeitas, havia um clima estranho no ar, mas as notícias não chegavam como hoje e, dado que o Brasil também vivia uma ditadura, era impossível protestar aberta e livremente.
Recentemente, a Rússia sediou uma Copa, e a Rússia não é exatamente um país modelo para direitos humanos. Não há uma ampla aceitação de pessoas LGBTQ, por exemplo. Mas tampouco a homossexualidade é punida com pena capital, como no Qatar.
Existe uma grande diferença entre não gostar da homossexualidade e perseguir homossexuais, prender, deportar ou matar. Tudo protegido por lei como é no Qatar.
As milhares de mortes de trabalhadores durante as construções dos estádios também não chocaram muita gente ou sensibilizaram a imprensa de modo geral.
Embora não haja dados oficiais que mostrem quantas pessoas morreram existe a certeza de que esse número é da ordem dos milhares. Seria horrível se fosse uma pessoa. Seria terrível se fossem vinte. Mas mais de cinco mil deveria ser suficiente para parar a Copa e mudar a sede.
Não foi feito.
No domingo passado, no Fantástico, fiquei quase quinze minutos vendo o Qatar ser promovido como destino turístico.
A impressão era a de que a Copa seria jogada num paraíso.
Entendo a necessidade de tentar levantar a bola do evento, mas não é possível passar quase vinte minutos falando do Qatar sem deixar registrado tudo o que de desumano o Qatar é.
Agora, a proibição da cerveja, a dois dias do pontapé inicial, está causando um levante de indignação.
Em São Paulo você não pode beber nos estádios. Culturalmente, a proibição da cerveja até faz sentido para os qataris. Sabíamos disso desde sempre. Não deveria ser tão polêmico assim.
Ou, pelo menos, não deveria ser polêmico diante de tantos escândalos que, num mundo justo, ofuscariam o fato de que as pessoas que decidiram ir visitar a ditadura do Qatar terão que ver os jogos sóbrias.
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