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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coletiva indica que convocação de Dani Alves está na dimensão da devoção

Daniel Alves durante coletiva de imprensa da seleção brasileira - Nelson Almeida/AFP
Daniel Alves durante coletiva de imprensa da seleção brasileira Imagem: Nelson Almeida/AFP

Colunista do UOL

01/12/2022 11h03

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Missão e transcendência foram conceitos usados respectivamente por Daniel Alves e Tite para seguir explicando o que o lateral direito está fazendo ali. A coletiva dessa quinta-feira, na qual treinador e lateral foram protagonistas, reuniu muitas perguntas a respeito da polemica convocação e da escalação contra Camarões.

Missão e transcendência são conceitos religiosos e, ainda que não tenham sido usados conscientemente dessa forma, comunicam que a convocação não tem tantas razões terrenas quanto místicas.

Se a presença de Daniel Alves nesse grupo e em campo contra Camarões tiver sido acertada, saberemos em breve.

Mas eu arriscaria dizer que quando coisas tão mundanas são colocadas na ordem do sagrado, especialmente quando se trata de alguém como Daniel Alves, estamos a caminho do fracasso.

Trata-se, sem sombra de dúvida, de um dos maiores laterais direitos da história. Técnico, taticamente inteligente, marrento e raçudo; qualidades que servem bastante bem ao jogo.

Mas, fora de campo, é um cidadão que não merece medalhas ou troféus.

O atleta é apoiador de um governo de extrema-direita responsável por alguns dos maiores horrores praticados contra a população brasileira na história recente, e também dono de uma ONG investigada por recebimento de 6 milhões do governo federal. Há suspeitas de que a ONG teria sido assumida para que o desvio fosse executado.

Durante a coletiva, um simpático e sorridente Daniel Alves saiu dizendo que falar era com ele mesmo e que estava ali pronto para todas as perguntas. Em seguida, foi perguntado sobre o valor do dólar naquele dia. Todos riram num grande viva à "broderagem" que impera em coletivas da CBF.

A excelente jornalista Gabriela Moreira, do grupo Globo, foi rápida no comando do Redação Sportv reagindo à entrevista e disse que a pergunta sobre a ONG, nunca respondida pela assessoria do jogador na ocasião da denúncia em questão, cabia no contexto.

Gabriela não conseguiu colocar a bola em jogo durante o Redação porque a mesa não quis dar sequência ao tema, mas sua observação, mesmo ficando no vazio, foi importante e pertinente.

O registro jornalístico estava feito e, em tempos de acentuado pachequismo, talvez por agora baste.