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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Michelle de joelhos e aos prantos: a estética de uma derrota

Michelle Bolsonaro - Reprodução/Twitter
Michelle Bolsonaro Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

21/12/2022 16h58

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Assim como o nazismo é uma estética política e também é a política como estética (já ensinou o professor Michel Gherman), talvez a derrota do nazismo se construa também como estética.

Michelle Bolsonaro, caída ao chão de joelhos enquanto três dúzias de fanáticos entoam um Pai Nosso em frente ao Alvorada e Jair se mantém de pé na perfeita imitação de sua própria estátua de madeira, é a brutal estética de uma derrota.

Estética que tem no bolsonarista grudado ao para-brisa do caminhão e vestido em camisa amarela outra simbólica representação do fracasso.

O fiasco de um golpe, o malogro da crueldade, a ruína de um projeto nazi-fascista de Brasil.

O fim de um governo desumano, perverso, sinistro, funesto, aterrador, tétrico, tenebroso, macabro.

Acaba aos prantos e de joelhos na grama do Alvorada.

Termina curvado em lágrimas tendo na mulher que derrete ao chão a perfeita representação do que chamam de fraquejada e no homem que permanece em pé vestido como um defunto a simbologia daquele que, ao menos, não se colocou em posição de prece frente ao séquito de fanáticos.

A imagem dos restos mortais dos sem caráter, dos sem alma, dos sem espírito.

Arrastando-se pela grama a partir do palácio para, calados, se arriarem diante de uns poucos que berravam coisas sem sentido, cantavam músicas que pediam por Deus e repetiam palavras de ordem.

Coloridas cadeiras de praia vazias entre eles e alguns lunáticos completavam a pintura mórbida.

Tudo em Michele e Jair cheira decadência e deterioração.

Estão com a textura de uma decomposição pública, cadáveres que se arrastam lentamente de mãos dadas pela grama, destinatários de tudo o que semearam e que agora volta como um bumerangue sobre suas cabeças.

O fim do atual governo produz imagens fortes e eloquentes.

É a estética do apodrecimento.

É a pulsão de morte que tanto promoveram representada em corpos que ainda se movimentam, mas que já não emitem mais sinais vitais.

Jair, o zumbi político, terá agora que encarar juridicamente suas ações nos últimos quatro anos - ou mais.

Quanto a Michele, vamos ter que esperar para ver o que tem pela frente: se segue caída e humilhada aos pés do marido e enfrenta destino semelhante ou se decide, quem sabe, contar um pouco do que viu e ouviu.