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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com seis anos de atraso, CBF manifesta apreensão com uso golpista da camisa

Homem usa camisa da seleção brasileira em ato terrorista em Brasília, em 8 de janeiro de 2023 - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Homem usa camisa da seleção brasileira em ato terrorista em Brasília, em 8 de janeiro de 2023 Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

09/01/2023 12h54

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Quando em 2016 multidões iam às ruas pedir o afastamento de Dilma Rousseff usando a camisa amarela da seleção houve quem, a partir de um lugar de rigor histórico e honestidade intelectual, alertasse para o que eram aquelas manifestações.

Avisamos que encontrar desculpas para se livrar de Dilma abriria rachaduras estruturais em nossa ainda jovem democracia. Alertamos para o caráter de golpe de estado que aqueles movimentos levavam com eles.

Não se tira do poder uma pessoa eleita por maioria simplesmente porque alguns empresários acham que é o melhor para a economia.

Ficou evidente que não era em nome da economia.

Pelo menos não da sua ou da minha.

Da de Paulo Guedes e de outros como ele, sim, sem dúvida essas pessoas ganharam demais desde o golpe em Dilma.

Mas não você e eu. Não a classe trabalhadora.

Voltamos ao mapa da fome. São 33 milhões de famintos no Brasil pós-golpe. São 125 milhões de pessoas que não sabem quando farão a próxima refeição. O Brasil de Temer a Bolsonaro é terra-arrasada em dignidade para a maioria e em decência para a classe dominante.

Desde 2016, afundamos em lama ética e estética.

Desde 2016 a camisa da seleção ajuda a contar essa história colada ao peito de golpistas.

Mas em 2016 havia interesses para que camisa amarela estivesse associada aos movimentos que pediam o afastamento de Dilma. Então o jogo seguiu.

Agora, quando já é evidente quem faz parte de que time nesse confronto entre democracia e fascismo, a CBF se manifesta.

O nazi-fascismo que explode hoje pelas ruas se organizou e se legitimou com o golpe em Dilma.

Quem não viu isso acontecer bem diante de nossos olhos, e quem não alertou para o que estava por vir, não mereceria seguir com o título de analista de conjuntura política.

A CBF, por desinteresse ou conivência, silenciou durante todo esse tempo.

E agora faz muito pouco e faz muito tarde.

Desde os primeiros sinais do golpe em Dilma teria sido necessário se manifestar do lado dos interesses da classe trabalhadora.

Não era difícil saber qual lado tomar. Bastava um pouco de interesse histórico, bastava buscar entender, via fontes confiáveis, do que se tratavam aqueles movimentos anti-democráticos em sua raiz.

A camisa amarela já está colada ao golpe de 2016 e colada aos atos terroristas de 2022 e de 2023.

As imagens que contarão essa história terão o escudo da CBF em destaque. Na trincheira dos extremistas, dos vândalos, dos delinquentes, dos golpistas, dos terroristas.

Notas de repúdio não farão mais nada por essa camisa.