Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Torcida só de mulheres e crianças premoniza: nada jamais será como antes
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A imagem do Couto Pereira e da Arena da Baixada, ambos em Curitiba, inundados de mulheres e de crianças torcendo para Coritiba e Athletico respectivamente, causou uma espécie de rompimento com o passado.
As coisas não mudam no tempo que gostaríamos, mas elas mudam e, vez ou outra, aparece uma imagem que risca o chão da mudança e avisa: nada jamais será como antes.
Já é de domínio público que a audiência do futebol masculino é também composta por mulheres.
Já é de amplo conhecimento que mulheres narram, comentam e reportam.
Já se sabe que mulheres jogam a despeito da falta de incentivo e de investimento.
Tudo isso está registrado ainda que haja quem esperneie.
Mas o que vimos no Couto Pereira e na Arena da Baixada não permite espaço para contestação.
Na Arena, capacidade máxima ocupada por mulheres e crianças, o clima foi de catarse, transe, delírio.
Fica absolutamente provado o que podem as mulheres fazer por esse esporte dentro e fora de campo. Um esporte que, é preciso sempre dizer, nos maltrata e não liga muito para a paixão que temos a oferecer.
Mas o que fizeram Coritiba e Athletico rompe com o passado.
Aqueles de tendência mais liberal certamente olharão para as imagens do estádio tomado de mulheres e crianças e verão consumidoras.
Não deixa de ser verdade.
Nós consumimos demais, ainda que nem sempre encontremos nossos tamanhos ou uma fartura de produtos feitos para nossos corpos.
Aqueles de tendências mais poéticas entenderão o colossal circuito de afetos que se instala quando um estádio se vê livre de opressões, de violências, de assédios e de abusos.
Transformar uma arena em um templo de criação e circulação de afetos é das coisas mais poderosas que podemos fazer juntos e juntas.
Até que Coxa e Furacão nos mostrassem, em imagens, do que somos capazes muitos ainda poderiam duvidar.
Não mais.
Um estádio que só faça cantar e amar é possível de ser construído.
Um lugar onde crianças possam apenas existir e mulheres sejam sujeitos plenos e não corpos abusáveis e descartáveis.
Aí está.
Obrigada Coxa e Furacão.
Vocês escreveram seus nomes na história da luta feminista - quase sem querer, mas escreveram.
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