Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A única punição justa para empresas que se utilizam de trabalho escravo
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Não coube no título, mas gostaria de ter incluído "empresas que fazem balanços criativos", ou, em português mais direto, empresas que desviam ilegalmente dinheiro para o bolso dos acionistas.
Não há multa que faça justiça ao horror que é utilizar trabalho escravo.
Assim como não há multa possível que seja capaz de igualar os bilhões desviados de empresas como fez a Americanas.
Vejam as multas aplicadas às corporações que causaram desastres ambientais como os de Brumadinho e Mariana: é dinheiro miúdo, multa para inglês ver, como diria minha avó.
As multas, nesses casos, serão sempre um valor percentual que, se isoladamente pode até parecer alto, não é valor de fato alto se comparado ao lucro distribuído (real ou fabricado) da corporação em questão.
A solução justa seria a de entregar a empresa para gestão de seus funcionários.
Desapropria-se e passa-se o controle integral para os trabalhadores.
Radical, diriam alguns.
E eu argumentaria que radical é desviar bilhões ou fazer uso de trabalho escravo.
Os trabalhadores não saberiam como operar a empresa, poderiam dizer outros.
E, nesse caso, seria preciso verbalizar o óbvio: quem não sabe operar uma empresa é quem desvia da própria empresa ou quem se utiliza de pessoas escravizadas para lucrar.
Mas, para sair da teoria, podemos falar de empresas que existem e estão sob controle da classe trabalhadora.
A maior delas talvez seja a Mondragon, na Espanha.
A Mondragon existe há mais de 50 anos, foi criada por um padre no pós-guerra e desde a fundação é uma cooperativa.
Hoje, são 80 mil sócios-trabalhadores que elegem o presidente por períodos limitados, votam em assembléias e não permitem que o presidente ganhe mais do que seis vezes o que ganham os salários mais baixos da cooperativa.
A Mondragón começou produzindo eletrodomésticos e hoje atua nas áreas de engenharia mecânica, finanças e construção. É ela que assina a construção do telhado do famoso Museu Guggenheim, em Bilbao.
No mundo das corporações de controle privado essa diferença entre salário de diretores e dos empregados que ganham menos na empresa pode chegar a 400 vezes.
A Mondragon é a sétima maior corporação espanhola e vende para 150 países. Do conglomerado fazem parte hospitais, escolas e universidade.
Mas há outros exemplos.
A região de Reggio Emilia, no norte da Itália, incentiva cooperativas, assim como o estado de Dakota do Sul, nos Estados Unidos.
No Brasil, a Flaskô, em Sumaré, São Paulo, foi operada durante 10 anos por funcionários e, nesse período diminuiu a carga de trabalho, produziu mais e elevou os salários dos funcionários.
Antes da ocupação, a Flaskô era de propriedade da Cipla Interfibra e do grupo Holding Brasil. Sob administração privada, a empresa foi à falência.
O professor Vladimir Safatle tem lembrado de casos de estatização bem sucedidos, como o da Renault, a empresa francesa que foi punida por ter apoiado o nazismo e, depois da guerra, estatizada pelo governo francês.
São soluções simples para crimes humanitários e empresariais hediondos.
Além de simples, elas dariam um recado bastante claro aos que insistirem nos crimes.
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