Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cruzeiro: muita gestão, pouco futebol
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O Cruzeiro escolheu não usar o Mineirão para o primeiro jogo da semifinal do estadual contra o América.
A diretoria estaria em tretas com a administração do tradicional estádio. A recém-criada SAF de Ronaldo analisa que os preços cobrados pelo aluguel do Mineirão são abusivos e que por isso não valem o gasto.
Planilhas são coisas sérias. Entradas, saídas, receitas, saúde financeira. Até aí, tudo certo.
Mas planilhas não lidam com afetos. E futebol é, antes de mais nada, um circuito de afetos.
A imensa massa cruzeirense poderia lotar os 60 mil lugares do Mineirão nesse primeiro jogo (se os preços dos ingressos fossem acessíveis, claro).
Um Mineirão lotado e vibrante seria importante para pressionar emocionalmente o Coelho de Vagner Mancini, Aluisio e Benitez.
Mas eis aí outra coisa decidida pelas planilhas e nada mais: os preços dos ingressos.
Lucro acima de tudo, rentabilidade acima de todos. Não me venha com afetos, emoção, paixão; aqui tudo é gestão e razão.
Em campo, na pequena e simpática Arena do Jacaré, com capacidade de 18 mil lugares, o Cruzeiro pouco mudou em relação ao time que venceu com sobras a série B.
Foi suficiente para a série de acesso, não tem sido esse ano.
O América de Mancini é um time organizado e estratégico que joga confortavelmente no contra-ataque.
O Coelho vencia por 2x0 quando uma situação bizarra oferecida pelo VAR aconteceu.
Arbitragem de campo e VAR viram um penalti para o Cruzeiro que é daqueles que seria preciso uma comitiva de árbitros para explicar: o puxão em Gilberto foi claramente fora da área mas o juizão, depois de marcar apenas falta, decidiu escutar os árbitros de vídeo e mudar a marcação para penalti.
O jogo parou por mais de cinco minutos para a checagem: foi dentro? Foi fora?
Penalti marcado, bola na marca, Gilberto concentrado para bater mas o VAR seguiu falando na orelha do juiz que, por isso, não autorizava a cobrança.
E pronto: em nova análise, penalti anulado: Gilberto estaria impedido na origem do lance.
Na pequena e acanhada tribuna do estádio, Ronaldo, em contraste com a expressão do torcedor e da torcedora, sorria.
Nervoso? Revolta? Preocupação?
O cruzeirense e a cruzeirense, sem paciência, decidiram então dar aquela xingada no dono do time.
Cheguei a dizer durante a semana, num arriscado ímpeto de futurologia, que a final do Mineiro seria entre Galo e América.
O Cruzeiro pode me calar, claro que pode, mas para isso terá que se injetar de alma porque me parece que faltam estratégias em campo.
Vai ter que ser na raça, mas o mando agora é do América, que inclusive tem a vantagem de jogar por dois resultados iguais.
A torcida do Cruzeiro protestou na arquibancada e gritou "time pipoqueiro".
Não é um time pipoqueiro: em campo teve correria e luta.
Mas é um time em busca de vibração e ideias. Conseguirá?
Para isso vai precisar fazer três gols de diferença no jogo da volta, no próximo fim de semana.
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