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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que a ação de marketing de Neymar para uma casa de apostas foi ofensiva

Neymar - Lucas Ramos/Brazil News
Neymar Imagem: Lucas Ramos/Brazil News

Colunista do UOL

30/03/2023 09h55Atualizada em 30/03/2023 12h10

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A primeira impressão era a de que Neymar, jogando roleta virtual durante uma live, tinha perdido um milhão de euros —quase seis milhões de reais.

A reação dele, fingindo desespero e depois gargalhando diante da perda dessa dinheirama, já seria ofensiva mesmo que a cena não passasse de uma brincadeira.

Tudo se tratava, saberíamos na sequência, de ação de marketing para uma casa de apostas online.

Acho bastante sintomático que uma ação de marketing seja pensada e idealizada ao redor da perda de um valor astronômico.

Acho perigoso demais que sites de apostas estejam sendo oferecidos a jovens desse modo tão vulgar, sem nenhum aviso sobre os riscos e, pior, com a espetacularização em torno da perda de milhões.

Acho também de muito mau gosto que, diante da perda, ainda que teatralizada, de um valor que é astronômico para 90% das pessoas desse planeta, a reação do derrotado seja histriônica.

Acho que Neymar carece de alguma assessoria que pelo menos diga a ele coisas como: seria mesmo uma boa ideia fazer essa ação em tempos tão empobrecidos para as pessoas do seu país?

Será que não existe no dia a dia de Neymar uma pessoa que esteja preocupada com o que ele transmite, com os valores que ele celebra, e que diga coisas como "você não precisa desse dinheiro, vamos deixar passar a oferta"?

Ou: talvez fosse hora de parecer mais homem e menos moleque.

O senso de humor de Neymar, a gente é levado a acreditar, ficou na quinta série.

Em volta dele, dezenas de pessoas que se esbaldam com as coisas que ele diz, com as dancinhas, com os exageros.

Chegar nesse nível de fama, riqueza e poder é também ter que lidar com todo tipo de bajulação.

Tem os que se incomodam, mas tem também os que parecem acreditar em tudo de maravilhoso que o time de bajuladores diz a respeito deles.

Neymar precisaria de alguém que pelo menos sugerisse outros caminhos para sua jornada.

Em quatro, cinco anos ele terá parado de jogar.

As imagens que ficarão girando o mundo são as de seus dribles, seus gols, sua genialidade em campo, mas também as das lives com ações de marketing de mau gosto e as do apoio dançante dado a um presidente que, ao que tudo indica, não escapará de ser julgado por múltiplos crimes, de muambas a genocídios.

Será que a vida é só isso?

Jogar, dançar, festejar, gargalhar, compactuar com homens de valores escatológicos e glamorizar a perda de um dinheiro que 90% de seus conterrâneos jamais terão na vida, mesmo trabalhando 17 horas por dia?