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Em gesto de insanidade, o Dalai Lama deixa uma última e acidental lição
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Não há contexto em que a atitude do Dalai Lama - pedindo que uma criança de seis, sete anos "chupe a sua língua" - possa ser interpretada como normal, brincadeira, cultural.
É um gesto de pedofilia.
Ponto e pronto.
A partir dessa triste e dilacerante realidade seria preciso analisar o que resta.
Quando um Dalai Lama - figura de espiritualidade ecumênica para nós, ocidentais, que fomos ensinados a enxergar na liderança religiosa tibetana alguém que paira acima do bem e do mal - se entrega publicamente a gesto tão insano de criminalidade mundana, morrem sentimentos em nós.
Vão com a imagem carregada de vulgaridade nossa confiança em uma dimensão espiritual que seja representada pelos que, até ontem, eram apenas figuras fofas, inocentes e ligadas ao sagrado.
Vai com o gesto pedófilo um pouco do que nos restava de inocência.
E vem a certeza de que estamos todos presos como iguais nesse planeta perdido numa imensidão escura.
Não há santos. Não há salvação. Não há esperança.
Essa é uma forma de enxergar e de sentir.
Mas tem outra.
A outra é aquela ensinada pelas religiões orientais: Deus está dentro.
Não existe em outra pessoa, vista ela batas, túnicas, ternos ou coroas.
"Sou homem e tudo o que é humano não é alheio a mim", escreveu Terêncio há muitos séculos - e por isso a linguagem sexista.
Não existe em outra pessoa um sagrado que nã esteja em nós.
Não há Dalais Lamas suficientes para comporem constelações que não possam brilhar em nós mesmos.
Dentro de cada um de nós, céu e inferno, Deus e o diabo.
Orai e vigiai é, talvez, a grande sabedoria que podemos carregar nessa jornada.
É preciso estar atento e forte, como diz a música. Todos os minutos de todos os dias.
Não há Lamas. Não há Dalais. Não há santos ou pessoas sagradas.
Não há lideranças espirituais que valham nossa entrega febril, desmedida, cega.
Não há nada fora; tudo está dentro.
O desamparo, afinal, é sentimento potente de transformação.
Ao cometer uma insanidade muito mundana, o Dalai Lama nos deixa uma última, e acidental, lição.
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