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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Só um nome pode limpar a barra do estrago causado pela diretoria corintiana

Colunista do UOL

28/04/2023 17h35

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Um sinal dos nossos tempos é a marca de como ações têm efeito simbólico imediato. A contratação de um homem condenado por envolvimento em relação sexual coagida com uma adolescente de 13 anos na Suíça (uma condenação que pela lei brasileira vigente tem o nome de estupro) pelo clube que se gaba de suas lutas sociais destruiu a "marca" Corinthians - marca entre aspas porque é assim que gostam de falar os liberais da bola ainda que seja uma referência que apequena a grandeza do clube.

Estranho que Nike e demais patrocinadoras e apoiadoras tenham pegado muito leve nessa história.

A Nike rompeu com Neymar quando o atleta foi acusado de violência sexual. No caso de Cuca, temos uma condenação.

O que a Nike fez? Vestiu Cuca à beira do gramado e eternizou as imagens da marca colada ao peito dele ao lado do emblema do timão.

São muitas perdas simbólicas, muitos danos a uma imagem construída com luta e entrega ao longo de décadas.

Como se forma uma torcida? Desse jeito.

O time do povo não veio do nada e não veio de vitórias tanto quanto de lutas.

Veio porque a torcida se orgulhava das causas defendidas pela camisa que vestia.

Mas o clube do "respeita as minas" decidiu desrespeitá-las de forma brutal. Jogou o slogan e a campanha na lata do lixo e mostrou que eram apenas ideias para vender produtos.

E agora?

Agora o correto seria trazer para treinar o clube alguém minimamente ligado às causas que fizeram o Corinthians ser o que é.

Roger Machado é um treinador jovem, moderno, dinâmico.

Vem da tradicional escola gaúcha e, como Fernando Diniz, gosta de pensar o jogo de formas alternativas.

Ah, mas não ganhou nada.

E Abel Ferreira antes do Palmeiras? E Diniz que há anos luta contra essa pressão?

Queremos os consagrados ou estamos dispostos e dispostas a crescer juntos?

Roger Machado saberia recolocar o clube em sua rota de lutas sociais. Saberia falar sobre elas. Saberia recuperar parte do capital simbólico perdido nesses últimos anos.

Roger Machado seria um antídoto para esse veneno que circula pelo Parque São Jorge e ameaça destruir a imagem de um clube.