Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Governo Lula decide não adiar o fim do mundo
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A imagem da subida da rampa, braços dados ao cacique Raoni, ainda está viva em nossa memória.
Parecia uma mensagem bastante eloquente a respeito dos rumos que o governo que tomava posse naquele dia adotaria em relação a políticas ambientais.
Pessoas conscientes dos riscos que corremos respiraram aliviadas.
Não durou seis meses.
Foi esse o tempo que os negacionistas articulados em Brasília precisaram para iniciar o desmonte das possíveis ações que seriam tomadas para preservar o meio ambiente e, com isso, adiar o fim do mundo, como ensinou Ailton Krenak em seu necessário livro de cabeceira.
Sabemos que Lula herdou uma nação em ruínas e que muitas lutas precisarão ser travadas em nome da decência. Mas se existe uma luta que se sobrepõe às demais é a luta contra o fim da humanidade.
Me parece razoável que não haja necessidade de explicar por que essa é a mãe de todas as lutas.
Em editorial nesse 25 de maio, o portal Sumaúma, que fala desde o centro da Amazônia, escreveu o seguinte:
"Se o ataque do Congresso ao futuro das crianças for bem-sucedido, acabou para todas as pessoas, porque a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pampa não sobreviverão a um segundo governo predatório. Se a floresta não sobreviver, acabou até mesmo para os grandes operadores do agronegócio, porque sem chuva não tem produção, não tem exportação, não tem lucro. Não é exagero. É o que mostra a melhor ciência. Entendam: estamos no limite e não será possível esticá-lo".
Não há espaço para manobras, não há ambiente para "e se?" - o fim da nossa espécie, o fim da experiência humana sobre a Terra, é o que está em jogo.
Seria uma proeza sermos a primeira espécie a se autoextinguir.
Os dinossauros pelo menos tiveram uma boa desculpa que caiu dos céus. Nós, que nos consideramos tão inteligentes e superiores, teremos nos suicidado coletivamente.
Em nome do quê? Do acumulo de riqueza e de poder? De uma masculinidade tóxica que acredita que pode seguir explorando, perfurando e consumindo porque o fim do mundo é um exagero?
Não, o fim do mundo não é um exagero. Ele é uma realidade. Espécies se extinguem, a vida segue nesse planeta improvável. Não a nossa, mas muitas outras espécies se beneficiarão da nossa ausência. Não seria tão trágico assim, é verdade. Mas queremos nos extinguir? Porque a escolha é, ainda, apenas nossa.
O Brasil tem a única solução para evitar o fim do mundo: preservar o que resta de nossas matas e florestas. Parar de buscar petróleo perfurando o fundo do mar. Encontrar e distribuir uma nova matriz energética. Transformar o agronegócio.
Quis o destino que estivesse concentrada aqui nessa terra chamada Brasil a possibilidade de adiar o fim dos tempos.
A briga é grande e precisa ser travada contra forças bem articuladas. Mas essa é, agora, a única batalha que nos interessa.
Marina Silva, Simone Tebet e Sonia Guajajara deveriam estar na linha de frente cada vez mais fortes e autônomas. Só que o que estamos vendo é o contrário: mulheres com poderes esvaziados, vítimas de mobilizações perversas de homens poderosos e guiadas pelo lucro predatório.
Conseguiremos reverter esse cenário? Seremos capazes de convencer a população que o fim do mundo se aproxima? Teremos ajuda do resto do planeta nessa que é a batalha de nossas vidas? Vamos decretar o fim desse sistema econômico que só faz destruir, explorar e separar?
Mark Fisher ensinou que é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo, e ele não estava errado.
Somos capazes de dialogar confortavelmente sobre nossa extinção, mas falar sobre a extinção de um arranjo econômico que evidentemente não está funcionando mais é um sacrilégio. Comunista! Esquerdista! Prendam!
As respostas às perguntas acima construirão a imagem dos próximos anos: anos de confiança renovada, ou anos de sufocamentos, novas pandemias, pobreza extrema.
Que Lula tenha forças e disposição para entrar em campo e organizar a luta. Ainda temos tempo. Mas não muito.
Como lembro de ter lido em um artigo de Sidarta Ribeiro: se não mudarmos a rota, o fim do mundo vai ser lento, quente e fedorento.
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