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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Boleiragem seguirá calada a respeito de Robinho?

Colunista do UOL

15/06/2023 04h30

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Passadas 24 horas da disponibilização dos áudios vazados que revelam o deboche com que Robinho e sua turma trataram o estupro cometido, um total de zero jogador em atividade havia se manifestado.

Era de se esperar que aqueles que falam em nome da família e dos bons costumes, que se dizem devotos fervorosos dos ensinamentos de Deus, tivessem dado um passo à frente e berrado apavorados em relação ao que escutaram ou aos trechos que estão sendo divulgados.

Inaceitável!, deveriam bradar. Estamos enojados, teriam que dizer.

Onde estão os vídeos revoltados?

Onde estão as trocas de whatsapp nos grupos dos boleiros revelando o nojo com que escutaram os áudios?

Sabemos que há assuntos que fazem eles se manifestarem com força, mas parece que estupro não é um desses temas mobilizadores de suas revoltas.

Nada. Vazio. Remanso.

Os mesmos que se apressaram para, durante a Copa, partirem para cima de Casagrande por seus comentários, agora calam.

Quem falou sobre Robinho, como sempre, foi justamente Casagrande.

Os mesmos comentaristas que ontem mesmo estavam defendendo a classe de profissionais da bola de palavras duras proferidas por alguns críticos - na época do escândalo de Cuca - silenciam agora magnífica e eloquentemente.

Alguns chegaram a pedir com contundência que pegássemos leve com Cuca.

Outros foram a Santos bater um futvôlei e tirar fotos sorridentes com Robinho.

Onde estão os que atacaram com raiva a comentarista Ana Thais Matos quando ela corajosamente se posicionou contra a contratação de Robinho pelo Santos sendo uma das únicas - senão a única voz - a falar a respeito do absurdo da contratação?

Vão se desculpar publicamente?

Vão ser suficientemente decentes para dizer "eu errei quando te ataquei"?

Poderia ser apenas a Hipocrisia F.C em campo, mas é mais do que isso.

Não é sobre apontar dedos, mas sobre entender que o silêncio da classe é extremamente eloquente e diz muitas coisas fundamentais (e tristes) sobre o que eles pensam a respeito de mulheres.

O estrondoso silêncio revela que jogadores e ex-jogadores comentaristas não estão chocados.

E esse fato em si prova, de forma arrebatadora, que a violência sexual é uma cultura amplamente aceita e praticada no meio.