Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Carta por uma manifestação oficial da CBF a respeito da violência de gênero
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Caro presidente da CBF, sr. Ednaldo Rodrigues,
Queria começar essa carta dizendo que acredito que o senhor seja um rompimento com uma linhagem de presidentes cujo trabalho não deixou legado que não fossem escândalos.
Vendo a forma como o senhor conduz a CBF e a seleção, imagino que esse rompimento seja sincero e que seus ideais sejam bastante diferentes dos ideais dos executivos que o antecederam.
Já é uma rufada de bons ventos.
Escrevo essa carta imaginando, talvez ingenuamente, que ela, quem sabe, possa alcançá-lo de alguma forma.
Nesse caso, o que eu gostaria era fazer algumas sugestões para essa nova fase que se inicia no planejamento da seleção masculina principal.
Estamos diante de escândalos de violência sexual envolvendo ex-integrantes da seleção, jogadores famosos e celebrados.
Até aqui, um total de zero comentários oficiais foram emitidos pela CBF a respeito dos casos.
Em ano de Copa do Mundo de futebol feminino, o silêncio soa desencaixado e, também, incoerente com seu trabalho até aqui.
Acompanho com alegria a movimentação contra o racismo.
Hoje, na coletiva com Marquinhos e Ederson, houve perguntas sobre Vini Jr. e os crimes que estão seguidamente sendo cometidos contra ele.
A resposta de ambos foi correta, precisa. Fiquei feliz de ver o tema ser tratado aberta e honestamente por jogadores da seleção.
Mas e a violência de gênero?
Como esperado, não houve um repórter que fizesse a pergunta a respeito dos áudios entre Robinho e seus colegas recentemente divulgados pelo UOL e que se relacionam ao estupro que cometeram na Itália.
Mas será que não caberia uma nota oficial da CBF se solidarizando com as mulheres e mostrando horror com o conteúdo dos áudios justamente durante uma data FIFA?
Imagino que o senhor tenha sabido dos áudios e imagino que, nesse caso, o senhor tenha ficado enojado, horrorizado, revoltado, angustiado, perturbado, transtornado. Só não sente essas coisas quem compactua com a violência de gênero, claro.
Não acha significativo que o presidente da CBF se posicione de forma contundente?
Não se trata de pedir punição, mas de buscar uma saída para essa situação de violência que envolve tantos jogadores de futebol.
Mais do que isso: que tal pensar em aulas sobre o aspecto estrutural e diário do machismo e da misoginia para o grupo, incluindo dirigentes e comissão técnica?
Que tal criar um protocolo para essas aulas?
É bacana ver faixas, cartazes e hashtags que promovam a luta contra preconceitos, mas seria hora de mostrar um pouco mais para esse Brasil que estupra uma mulher a cada dez minutos - um dado sub-notificado, calcula-se, em até nove vezes.
São números de uma guerra, uma guerra que está sendo travada há séculos contra o corpo feminino.
Termino essa carta na esperança de que o senhor se posicione e acrescente mais um passo histórico à sua gestão .
Abraço.
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