Topo

Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro pode ser finalmente preso por incitação ao estupro

Bolsonaro voa de volta para o Brasil após três meses de autoexílio nos EUA - Reprodução Instagram
Bolsonaro voa de volta para o Brasil após três meses de autoexílio nos EUA Imagem: Reprodução Instagram

Colunista do UOL

20/06/2023 08h58

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Enfim uma das declarações mais violentas já feitas por um deputado na história do Brasil pode ter destino justo.

O ministro Toffoli, do STF, determinou no dia 19 de junho de 2023 que a ação penal na qual Bolsonaro é réu por incitação ao crime de estupro seja enviada para a Justiça do Distrito Federal.

Vamos relembrar.

Quando ainda era um deputado rejeitado e desconhecido, Jair Bolsonaro disse a sua colega Maria do Rosário que só não a estuprava porque ela não merecia. Disse isso enquanto ia para cima dela com as mãos, empurrando e oprimindo.

Era, para além da violência óbvia, o estupro como merecimento, como elogio, como deferência.

Na época, ao jornal Zero Hora, o então deputado elaborou seu pensamento explicando que achava a deputada muito feia e que por isso ele, Bolsonaro, jamais a estupraria.

Acrescentou assim mais uma camada de violência à aberração que vomitou anteriormente.

Depois disso, a deputada Maria do Rosário passou a ser seguidamente agredida por bolsonaristas - agressões que se estendem até o dia de hoje.

Não deu em nada a não ser em aumentar a popularidade do deputado marginal.

Anos depois, esse mesmo Bolsonaro estaria sendo naturalizado como candidato à presidente da República.

Ainda que suas outras declarações e ações não tivessem sido racistas, ou nazi-fascistas, ou que ele não tivesse usado o vírus como arma biológica contra sua própria população.

Ainda que em seu governo a Amazônia e outros biomas não tivessem sido incinerados.

Ainda que ele não fosse adorador de torturadores, ditadores ou de torturas e ditaduras, ainda que nada disso tivesse acontecido, apenas essa frase sobre estupro deveria bastar para que ele perdesse o mandato de deputado e ficasse inelegível.

Teríamos nos livrado de muita coisa.

É de uma violência brutal incentivar o estupro. É ainda mais ignóbil colocar o estupro como elogio.

É baixo, perverso, vil, abjeto, nojento, grotesco, criminoso, covarde, desumano e vulgar.

A justiça, que muitas vezes não chega, dessa vez pode chegar tarde.

Mesmo assim, é esperar que ela seja executada e que a mais abjeta das declarações já feitas por um deputado eleito seja punida com rigor.

Pode ser preso se considerado culpado?

Pode. A pena chegaria a seis meses.

Será?

Dificilmente vai em cana num país que não prende sequer aqueles que estupram para além das palavras.

Que a ação tenha andamento e resulte pelo menos em multa e registro histórico já é alguma coisa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL