Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Jair Renan, Robinho e o aspecto homoafetivo contido na masculinidade padrão
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Os áudios vazados entre Robinho e seus cúmplices, revelados em brilhante trabalho de investigação jornalística pelo UOL (repórteres Adriano Wilkson e Janaína Cesar), trazem para conhecimento público como alguns homens lidam com mulheres.
Verdade.
Mas, mais do que isso, as conversas recentemente vazadas revelam o que eles sentem uns pelos outros.
Comecemos com o estupro coletivo cometido por Robinho e seus amigos.
O que é um estupro coletivo? Não é sexo, certamente. Os responsáveis pelo ato querem o quê?
Querem aquele corpo feminino inerte e oprimido ou estão ali exibindo-se uns para os outros?
Quem escutar atentamente o que dizem os criminosos, Robinho entre eles, não terá dúvida: estão ali para se ver uns aos outros.
Para quê?
Provavelmente para, entre outras coisas, coletar memórias que serão usadas em punhetas futuras.
É um com o outro. É um para o outro. É um pelo outro.
A mulher, coisificada, não importa.
Eles se querem uns aos outros e resolvem isso cometendo um crime porque não têm coragem ou culhão para resolver de outro jeito, para assumir desejos, para entender quem são.
Corta para o podcast de Jair Renan e de colegas que se dizem entrevistadores debochando da pandemia, das mortes, vomitando supostas virilidades e performances enquanto centenas de milhares morriam.
O podcast em questão, cuja gravação é antiga mas só agora saiu do esgoto, se chama Social Pro.
O diálogo é um monumento à misoginia. Ao narrar suas supostas capacidades de "pegar" mulheres eles se entregam a um espetáculo masturbatório tão triste quanto patético.
Escutar, mesmo um pequeno trecho, é perceber que a masculinidade heternormativa é homoafetiva em todas as suas camadas.
Respeito, afeto, carinho, admiração eles querem uns dos outros.
Tempo eles querem passar uns com os outros.
Opiniões eles querem a do outro.
Das mulheres querem sexo, ou o que acham que é sexo nessa cartilha infame e pornográfica do que aprenderam que é transar, e servitude.
A cultura que coisifica mulheres, que acha que pode sair falando absurdos a respeito de quantas cada um pegou durante a pandemia, que preferiam morrer transando do que tossindo, é a mesma que lá na frente (e nem tão na frente) comete estupros coletivos em boates italianas.
Escutar esses diálogos é testemunhar a masculinidade heteronormatiava sendo performada.
É um teatro, um espetáculo hediondo do que a masculinidade normativa convida homens a serem.
Recomendo acessar tanto o podcast sobre Robinho quanto o que entrevista Jair Renan: são aulas sobre a homoafetividade pulsante no interior da cultura heterossexual masculina.
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