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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jair Renan, Robinho e o aspecto homoafetivo contido na masculinidade padrão

Jair Renan Bolsonaro estreia programa de rádio em Brasília - Reprodução/YouTube
Jair Renan Bolsonaro estreia programa de rádio em Brasília Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

03/07/2023 12h52

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Os áudios vazados entre Robinho e seus cúmplices, revelados em brilhante trabalho de investigação jornalística pelo UOL (repórteres Adriano Wilkson e Janaína Cesar), trazem para conhecimento público como alguns homens lidam com mulheres.

Verdade.

Mas, mais do que isso, as conversas recentemente vazadas revelam o que eles sentem uns pelos outros.

Comecemos com o estupro coletivo cometido por Robinho e seus amigos.

O que é um estupro coletivo? Não é sexo, certamente. Os responsáveis pelo ato querem o quê?

Querem aquele corpo feminino inerte e oprimido ou estão ali exibindo-se uns para os outros?

Quem escutar atentamente o que dizem os criminosos, Robinho entre eles, não terá dúvida: estão ali para se ver uns aos outros.

Para quê?

Provavelmente para, entre outras coisas, coletar memórias que serão usadas em punhetas futuras.

É um com o outro. É um para o outro. É um pelo outro.

A mulher, coisificada, não importa.

Eles se querem uns aos outros e resolvem isso cometendo um crime porque não têm coragem ou culhão para resolver de outro jeito, para assumir desejos, para entender quem são.

Corta para o podcast de Jair Renan e de colegas que se dizem entrevistadores debochando da pandemia, das mortes, vomitando supostas virilidades e performances enquanto centenas de milhares morriam.

O podcast em questão, cuja gravação é antiga mas só agora saiu do esgoto, se chama Social Pro.

O diálogo é um monumento à misoginia. Ao narrar suas supostas capacidades de "pegar" mulheres eles se entregam a um espetáculo masturbatório tão triste quanto patético.

Escutar, mesmo um pequeno trecho, é perceber que a masculinidade heternormativa é homoafetiva em todas as suas camadas.

Respeito, afeto, carinho, admiração eles querem uns dos outros.

Tempo eles querem passar uns com os outros.

Opiniões eles querem a do outro.

Das mulheres querem sexo, ou o que acham que é sexo nessa cartilha infame e pornográfica do que aprenderam que é transar, e servitude.

A cultura que coisifica mulheres, que acha que pode sair falando absurdos a respeito de quantas cada um pegou durante a pandemia, que preferiam morrer transando do que tossindo, é a mesma que lá na frente (e nem tão na frente) comete estupros coletivos em boates italianas.

Escutar esses diálogos é testemunhar a masculinidade heteronormatiava sendo performada.

É um teatro, um espetáculo hediondo do que a masculinidade normativa convida homens a serem.

Recomendo acessar tanto o podcast sobre Robinho quanto o que entrevista Jair Renan: são aulas sobre a homoafetividade pulsante no interior da cultura heterossexual masculina.