Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Caro senhor presidente da Fifa, bem vindo à revolução

O futebol não é esporte popular na Nova Zelândia. Por lá, rugby e criquet, outras duas modalidades levadas pelos colonizadores, ganham em paixão.

Mas, ao sediar uma Copa do Mundo, o país passou a olhar para o futebol, especialmente o feminino.

Quis o destino que a estreia fosse contra a Noruega, uma seleção experiente e sólida formada por jogadoras que atuam em alta performance nos melhores times do mundo.

Era um clássico do pequeno contra o grande, um David contra Golias na ordem das coisas femininas.

A Nova Zelândia precisaria se superar para ganhar.

E foi o que aconteceu, diante de um estádio com mais de 40 mil pessoas que, entre euforia e lágrimas, testemunharam o improvável.

O gol nasceu de uma jogada de pé em pé desde a goleira até a última atacante que, em arrancada, foi suficientemente inteligente para correr mais do que as duas zagueiras que a cercavam, mas menos que a bola. Estando atrás da linha da bola, evitou o impedimento e, recebendo o cruzamento em posição legal, mandou para o gol.

Depois do jogo, a ex-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern, que conduziu o país brilhantemente durante a pandemia, pediu para fazer uma visita ao vestiário.

Emocionada, fez um pequeno discurso às jogadoras. "Vocês mudaram tudo", ela disse visivelmente tocada pelo resultado e pela entrega do time. "Não importa o que vai acontecer a partir daqui. De verdade, não importa".

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Ainda sob fortes sentimentos, ela contou às atletas o que disse ao presidente da Fifa depois do jogo: Bem vindo à revolução.

É apenas o segundo dia da Copa, mas algumas coisas já começam a ficar evidentes. Não se trata de uma Copa do Mundo apenas. Estamos falando de um monumento que concretiza séculos de lutas por direitos e liberdade. A Copa é um marco para todas as mulheres do mundo, das que amam o futebol às que detestam. Não importa.

O que importa é o tamanho da conquista. Saber que o passado se comprime no tempo presente, trazendo todas aquelas que, antes de nós, lutaram. Rosa Luxemburgo, que amaria escutar a palavra revolução saindo da boca de uma liderança política tão importante, Dandara, Carolina Maria de Jesus, Adrienne Rich, Maria Ester Bueno, Ursula Le Guin, Clarice, Adelia Prado... a lista é infinita e cobre todos os cantos desse planeta tão gentil para nos servir de casa.

Jacinda renunciou ao cargo de primeira-ministra depois de seis anos se dizendo cansada e indisposta para se entregar à função como a função exige.

Um ato de coragem e força como apenas aqueles que vêm do reconhecimento de nossas vulnerabilidades são capazes de revelar.

Bem vindos à Copa feminina e à nossa revolução. Estamos apenas começando.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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