Milly Lacombe

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Seleção sul-africana: comando de uma mulher negra, cantoria e amor à luta

A seleção de futebol feminino da África do Sul, carinhosamente chamada de Banyana Banyana (palavra que significa "as garotas" e que tem origem no Nguni, raiz que forma algumas das principais línguas oficiais da África do Sul, como o Zulu e o Xhosa) tem a única treinadora negra na Copa do Mundo da Oceania (das 32 seleções, 12 têm uma mulher como treinadora).

Desiree Ellis foi uma importante jogadora profissional do país e hoje comanda as Banyana Banyana.

Eliis tem 60 anos e, portanto, viveu sua infância e juventude sob o regime de segregação racial do Apartheid, um crime contra a humanidade que durou entre os anos de 1948 e 1994 e que contou com amplo apoio de "democracias" como as do Estados Unidos e da Inglaterra.

Era Ellis que estava na liderança das Banyana Banyana quando o time, diante de 50 mil espectadores presentes, venceu a seleção do Marrocos e se tornou campeã da Copa Africana de Nações feminina em 2022 depois de ver seu país perder quatro finais seguidas do torneio.

A treinadora nasceu na periferia da Cidade do Cabo e teve que lutar contra a pobreza para se manter atuando atleticamente, dividindo-se entre múltiplos empregos e os treinamentos.

Ela conta que só foi capaz de seguir, a despeito das dificuldades e dos preconceitos dentro de um país que buscava acabar com o regime de segregação racial de todas as formas possíveis, porque tinha amplo apoio do pai e da mãe.

Na estreia da Copa, viu seu time endurecer o jogo contra a forte Suécia e perder de virada no último minuto. Mas Ellis sabe que a luta é um processo e não um evento - e que o caminho ainda é longo.

Ela também sabe que lutar sorrindo é melhor do que lutar de cabeça baixa, uma outra lição que traz dos dias mais tristes. Por isso, o time sul-africano sempre chega para suas batalhas cantando e dançando, motivo de orgulho e de encanto que rendem imagens comoventes e inspiradoras.

Em 2024, a África do Sul celebra 30 anos de democracia, data em que Nelson Mandela, preso político por 28 anos, foi eleito presidente da nação e colocou um ponto final no Apartheid.

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Vinte e cinco de julho é o dia mundial da mulher negra latino-americana e caribenha e, no Brasil, o dia nacional Tereza de Benguela, uma antiga liderança de Quilombo também conhecida como Rainha Tereza, o dia da mulher negra.

Dia para sonhar com a evolução desse esporte e também de imaginar uma seleção brasileira comandada por uma mulher negra num futuro nem tão distante.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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