Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Seria preciso entender o que diz Pedro quando fala em covardia psicológica

Pedro levou um soco do preparador físico do Flamengo, Pablo Fernandez.

O episódio, isoladamente, já é terrível. Mas, ainda mais terrível, é o que disse Pedro sobre supostas covardias psicológicas.

Um soco, um murro ou um tapa contém boa materialidade e são mais facilmente provados.

Mas e a covardia psicológica no ambiente de trabalho?

Essa passeia por tecidos mais subjetivos e delicados, especialmente em um ambiente majoritariamente masculino e viril como o do futebol.

"O Flamengo não tem profissionais de Psicologia do Esporte com a equipe profissional", diz Joao Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte .

"Nas categorias de base, conta com a psicóloga Duda Wolf. Para a equipe principal, apesar das diversas demandas observáveis e relatos de atletas da equipe nos últimos anos, o diretor Marcos Braz entende que não é importante a presença de um profissional da Psicologia do esporte com a equipe profissional", conclui o profissional.

O custo de pensamentos assim, muitas vezes, é alto.

Um time, mais do que um conjunto de técnicas, táticas e estratégias; é um conjunto de relações.

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Relações entre homens que conseguem de modo mais imediato comunicar a raiva e esconder o amor dificultam um pouco mais o encontro de equilíbrio emocional e mental.

Se Pedro estiver passando por algum tipo de violência psicológica ele está submetido a um ambiente tóxico que pode comprometer sua saúde mental.

Pedro tem 26 anos e não saberia, sozinho, lidar com a situação. Poucos saberiam, é verdade.

Das coisas mais perversas que existem é sair de casa para ir ao trabalho e passar por opressões quase invisíveis aos olhos de terceiros. Você primeiro acha que está ficando maluco, depois se convence de que não é nada até desabar em tristeza.

Pedro era titular e agora não é mais. Sampaoli tem o direito de montar seu time, que aliás está em processo de evolução e é vice-líder do Brasileirão, e o jogador tem o direito de receber uma explicação e suporte emocional para as fases mais complicadas.

Muito tempo depois do que seria razoável, Sampaoli se manifestou sobre a violência de seu preparador e piorou um pouco a situação. Fez um texto desses que diz que devemos amar o amor, odiar o ódio, patati patatá.

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Pior: disse que se tratava de uma briga, evitando chamar de agressão. Briga é quando dois ou mais se envolvem. Se apenas um leva soco e tapas então não há equivalência na violência.

Seria preciso se colocar de forma contundente: não se esmurra a cara de um colega de trabalho, muito menos a de um subordinado e então comunicar o imediato desligamento do preparador.

Ponto.

Em seguida, seria preciso investigar se o soco não sintoma de alguma coisa maior.

Hora de fazer o diagnóstico. Entender se a acusação de covardia psicológica é procedente, se outros passam por isso, resolver a parada.

Pessoas erram, pessoas se excedem e se arrependem. Tudo isso acontece com a gente e com outros.

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Aí a gente lida com a consequência de nossos atos e demissões fazem parte do processo. O preparador físico agora vai precisar encarar o que fez; com a justiça, com Pedro, com o Flamengo, com sua cartilha ética, com sua família... enfim, que faça uma boa viagem.

Não é hora de demonizar nem de linchar. É hora de parar, apurar, planejar, acolher a vítima e criar um ambiente de trabalho saudável para que o clube de maior torcida do Brasil possa, em campo, seguir seu destino.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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