Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Vamos naturalizar a voadora na bandeirinha e a encarada na torcida rival?

Executivos decidiram que a violência no futebol é causada porque duas torcidas adversárias se encontram num mesmo estádio.

Homens que se julgam razoáveis e inteligentes, mais do que a média, concluíram então que a solução seria a de sacramentar a torcida única. Se nunca mais as torcidas se cruzarem, resolvido está o problema, eles imaginaram.

Resolve tanto quanto tomar uma aspirina contra infecções, mas o mundo é deles e só nos resta acatar. E, claro, ridicularizar.

Dentro de um estádio tomado exclusivamente por torcedores do outro time, o jogador que faz um gol agora é criticado por celebrar com a já tradicional voadora na bandeirinha e por ir encarar a torcida rival.

Até onde iremos com tantas regras e moralidades convenientemente fluídas?

O que resta ao jogador que enfrenta um estádio inteiro contra ele e ainda assim é capaz de silenciar a galera marcando um gol?

Fazer o sinal da cruz e voltar ao centro? Abaixar a cabeça? Ajoelhar e olhar para o céu? Vamos jogar como padres jogariam?

Sendo corintiana, não gostei de ver Luciano ir encarar a torcida que chamo de minha dentro do estádio que chamo de meu.

Mas amaria ver Renato Augusto fazendo a mesma coisa no Morumbi lotado. Nesse caso, portanto, só me resta calar e engolir a petulância de Luciano.

Continua após a publicidade

A primeira regra da moralidade manda aplicar na gente o que exigimos dos outros.

Futebol comporta uma certa dimensão de afronta.

Não é errado encarar a torcida rival ou dar uma voadora na bandeirinha. Errado é tentarem fazer com que naturalizemos aberrações como a torcida única.

Estamos criando uma geração de torcedores mimados incapazes de lidar com a alteridade.

E, pior, incapazes de, secretamente, achar um lugar dentro de si para admirar a beleza, muitas vezes petulante e heróica, da rivalidade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes