Por Eloá, Thiago e tantos outros, o Brasil precisa parar
Eloá. Cinco anos. Pulava alegre em sua cama brincando de viver dentro de casa. Levou um tiro e morreu durante (mais uma) ação da polícia militar no Rio de janeiro.
Não é uma notícia antiga. Aconteceu nesse sábado, 12 de agosto. Poucos dias depois de Thiago Menezes. Alguns dias depois dos inocentes assassinados em uma favela no Guarujá que nem nome no noticiário mereceram. "Morerram 16", é assim que a informação é passada.
Eloá não morava no Leblon nem na Barra.
Se morasse, a TV talvez tivesse dado um plantão para noticiar a tragédia. O Brasil estaria chorando. Minha mãe já teria me telefonado. Você viu? Que horror. Onde vamos parar?
Mas não. Eloá morava no Morro do Dendê.
Fica tudo por isso mesmo. É a vida. Acontece. Muito triste. Tragédia. Vem cá, a que horas começa a rodada hoje?
Eloá é a 16º criança baleada durante ação da PM só esse ano.
Os que vão para as portas dos hospitais quando uma adolescente tenta fazer aborto legal depois de ser estuprada, berrando histéricos coisas como "somos a favor da vida", agora se calam.
A favor de quais vidas eles são?
Onde estão os malditos hipócritas que dizem pregar inspirados por um Deus de valores tão diabólicos?
Os que votaram por um golpe de estado uivando em nome da família agora correm como ratos para seus esgotos e deixam Eloá morrer sozinha.
Vermes imundos que se vestem de patriotas e de homens de família enquanto sonegam, evadem e traem suas mulheres nos prostíbulos de Brasília.
De quais famílias falam? Da deles, esse teatro macabro chamado de família e composto por poder, hierarquia, violência, machismo, abusos e assédios.
Eloá não é mais uma vítima da guerra as drogas porque não há guerra as drogas. Trata-se de uma ficção criada para justificar o assassinato de pretos periféricos. Aparar a grama, como se diz no jargão militar.
Assim como não há "operação" da polícia nos morros. Tudo o que há chama-se chacina.
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OLHAR APURADO
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Quero receberSeria importante que o jornalismo ajustasse a linguagem. Linguagem é lugar de luta.
Lula, que essa semana foi duro com o governador do Rio, criticando os assassinatos, agora precisa fazer mais. Precisa ir à TV. Fazer comunicado nacional. Usar as palavras certas.
Chacina. Racismo. Genocídio. Extermínio.
Estão matando nossas crianças e nós apenas assistimos enquanto seguimos com nossas vidas.
Estaríamos nós mesmos um pouco mortos?
Gente é para brilhar, Caetano cantou. E a polícia militar precisa acabar.
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