Morumbi lotado e pulsando amassa as badaladas e luxuosas arenas
O processo de demolição da geral do Maracanã foi seguido ao surto liberal da construção de modernas e eficientes arenas que abrigam de futebol a shows passando por missas e cultos.
Mármore, luxo, alta gastronomia e conforto dão vida a um torcedor diferente daquele que participou dos anos de ouro do futebol brasileiro.
Sem cair no deslize de romantizar o precário, seria importante notar que, dentro do precário, havia lições sobre entrega, amor e paixão.
Era na geral que o estádio começava a ser terreirizado. Sem conseguir ver o jogo em detalhes, aquela turma dançava, encarnava, rodopiava, amava.
Deveriam existir opções para que o futebol se modernizasse sem excluir uma parte dos torcedores - justamente a parte mais pobre.
Mas o liberalismo, essa religião que encolhe o espaço público dos direitos e alarga o espaço privado do privilégio, não se preocupa com pessoas, apenas com coisas. E as arenas, eles avisaram, é o que há de mais moderno. É assim que eles fazem na Europa e nos Estados Unidos. Temos sempre que imitar para mostrar que essa terra não é uma selva.
Na quarta, 16 de agosto, o Morumbi mostrou o que é: a casa para 70 mil são-paulinos e são-paulinas em transe. O Corinthians, o time do povo, ergueu sua luxuosa arena dentro da qual não cabem 70 mil pessoas. Eficiência, eles dizem.
Não cabe o povo, mas tem camarote com ar condicionado, vidro, buffet gastronômico e prosseco, gente.
O River e seu Monumental optaram por um caminho semelhante ao do São Paulo e, na minha opinião, acertaram.
Não é por acaso que a torcida do São Paulo está chamando para si a classificação de "time mais popular" do estado. Se na tradição a frase ainda soa desproporcional, nos números de ocupação ela revela uma verdade.
Tradições morrem e outras são construídas. O São Paulo pode, hoje, lotar um estádio mais do que seus rivais. Uma política popular no preço dos ingressos é o que basta para que isso aconteça. O caminho está aí e, como diria o meme, errado não tá.
Na conquista de uma vaga para disputar a sonhada Copa do Brasil, o Morumbi falou. Falou tão alto e tão forte que só mesmo muito recalque não nos deixaria compreender o que foi dito.
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