Milly Lacombe

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Marcos Braz se esconde atrás de filha e de mãe para justificar erro

É comum que homens crescidos que tentam imprimir masculinidade bastante viril usem mulheres para justificar deslizes e desvios. Marcos Braz, vice presidente de futebol do Flamengo, não fugiu à regra.

A coletiva de quase uma hora realizada nesse 21 de setembro na sede do clube foi organizada, disseram, para que ele explicasse o entrevero com um torcedor. Não foi o que vimos.

O dirigente, também vereador, repetiu muitas vezes que só fez o que fez (ainda que não tenha sito exatamente o que fez) porque a filha estava com ele e ele, temendo pela segurança da adolescente diante de insultos do torcedor, reagiu partindo para as vias de fato. "Vocês têm que acreditar em mim", repetia sem parar. Vocês sabem o que um pai é capaz de fazer por sua filha, não é?, sugeriu nervoso.

Sabemos?

Um pai de verdade assume a criação dos filhos mesmo estando separado. Guarda compartilhada. Metade-metade.

Um pai de verdade leva e busca na escola, faz lição com a filha, conversa sobre as violências do mundo, passa tempo com ela, sabe o nome dos amigos e amigas, compra material e uniforme, tem conhecimento do que ela tem estudado na escola etc. Será que Braz fala desse tipo de pai ou apenas dos que, na rua, saem agredindo quem por acaso talvez tenha, quem sabe, dito asneiras na frente da filha?

Vejamos.

Você é dirigente do clube mais popular do Brasil e está na rua com sua filha quando - vamos considerar que Braz esteja falando a verdade - vem um maluco e te ameaça. O que você faz? Dá um soco nele, cai no chão e dá uma dentada na virilha do cara ou, para proteger sua filha, você pega a adolescente pelo braço, vaza dali e presta queixa?

Braz optou por se engalfinhar com o torcedor no corredor de um shoping center. A filha que ele queria proteger não se sabe exatamente para onde foi enquanto os homens praticavam suas masculinidades no chão do recinto.

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Foi por você, filha. Papai te ama.

O vereador-dirigente usou a filha, as amigas da filha e até a própria mãe para contar por que perdeu a cabeça e por que segue no Flamengo apesar dos constantes pedidos para que ele saia - feitos pela mulher que o pariu.

Mamãe pede que eu saia, mas eu não saio, não saio, não saio.

Homens que se comportam como moleques, que não assumem responsabilidades, que não encaram seus erros.

Vitor Pereira saiu do Corinthians culpando a sogra.

Jogadores e ex-jogadores expostos pelas besteiras que dizem ou fazem contra mulheres normalmente se explicam com "mas eu tenho mulher e filhas ..".

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Tudo é sintoma de uma mesma doença: o machismo.

Homens tendem a não assumir seus erros, seus destemperos, suas violências. No limite, matam e estupram e ainda culpam a vítima. Ela me traiu. Ela deu mole para outro.

Ela, ela, ela, ela.

Nunca eles mesmos. Nunca o espelho.

A coletiva de Marcos Braz foi um constrangimento sem fim. Nervoso, desarticulado, repetitivo, tentando fabricar simpatia e tolerância.

No fim, só mais um homem sem coragem de assumir seus atos e metendo mulheres no meio para justificar suas fraquezas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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