Dinizismo é vida
Aos 33 minutos do primeiro tempo do jogo contra o Inter Nino recua uma bola para Felipe Melo que está a dois passos de Fábio, goleiro tricolor. Felipe Melo poderia sair com alguma tranqüilidade, mas pisou na bola e deixou o atacante do rival na cara do gol. Parecia que nada poderia ser feito e que o Inter empataria o jogo - estava um a zero para o Fluminense nesse momento. Quem apareceu para resolver a parada foi Ganso. Ganso, ele mesmo. Ganso, tantas vezes criticado por não voltar, não marcar, não correr.
Dinizismo é solidariedade.
O time do Fluminense, regido por uma torcida em catarse, fazia um primeiro tempo sublime. Sublime no sentido de emocionante, no sentido de delirante, no sentido de alegre, ofensivo, criativo - não no sentido de "estamos dominando sem correr riscos".
Dinizismo é risco.
O Inter, ao seu estilo, fazia um primeiro tempo bastante sólido também. Teve claras chances de gol, parou em Fabio, em Ganso, em André, em Nino.
Enquanto a arquibancada se entregava ao transe, os jogadores do Fluminense se alternavam de forma amalucada pelo campo: Marcelo na ponta direita, Áreas na lateral esquerda, André de atacante, Cano na defesa. Alguns enxergariam apenas caos. Mas estava longe disso.
Dinizismo é organização com o espírito da rua.
Antes dos 30 minutos de jogo já poderiam ter saído seis gols, três para cada lado. O público estava em delírio. A audiência em casa estava em pé.
Dinizismo é respeito pelo futebol e por toda a sua grandiosidade.
No final do primeiro tempo, o juiz argentino resolveu virar protagonista e expulsou Samuel Xavier, lateral do Fluminense. Rigor excessivo no primeiro amarelo, expulso no segundo. Expulsão de Brasileirão como disse meu amigo Mauricio Svartman. O juizão, com essa vaidade, mudou o roteiro. O Flu, que entrou com uma escalação ultra-ofensiva e corajosa, e que vinha fazendo um jogo eletrizante, foi prejudicado. Uma partida que poderia facilmente acabar com muitos gols foi ceifada de seu potencial pela atuação apequenada do árbitro.
Em seguida, no último minuto do primeiro tempo, gol do Inter.
Dinizismo é saber se reinventar.
Três alterações faz o Flu para o segundo tempo. Saem Ganso e John Kennedy do meio pra frente, e Felipe Melo na zaga. O Fluminense abre mão da ofensividade, recua, chama o Inter, vai voluntariamente para as cordas e explora o contra-ataque.
Dinizismo é sistema defensivo positivo operante.
O Fluminense começa bem o segundo tempo na nova formação mesmo com um a menos. Tudo parece sob controle. Mas não seria bem assim e quem marcou foi o Inter. Vira-vira no Maracanã. O Inter ganha moral, vai pra cima, o Fluminense parece perdido.
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OLHAR APURADO
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Quero receberSó que o futebol é coisa de maluco e deixa a gente louco da cabeça. Na raça, na superação, no sofrimento, na solidariedade e no improviso o Fluminense vai ao ataque, consegue um escanteio e acha o empate.
A torcida explode. Dois a dois e a corda moral estica agora - contra todas as previsões - para o lado do tricolor.
Em campo, o time do Fluminense parece exausto mas não para de correr. Na arquibancada a torcida entrou outra vez em transe. Faltam cinco minutos mais acréscimos. Milhões de corações-valente pulsam agora pelo Brasil.
Haverá quem diga que o Fluminense não soube marcar, que Samuel Xavier foi infantil ao levar o segundo, que o esquema de Diniz sacrifica quem está na defesa, que o empate foi péssimo, que jogar assim é matar a torcida do coração etc etc etc. Eu não sou uma dessas pessoas.
Pra mim, dinizismo é vida.
E a vida, que nem sempre é justa e muito menos é para amadores, pede superação, pede paixão, pede inspiração e re-invenção. A vida ensina que não estamos no controle de nada e que só nos resta optar por um caminho que seja ético, corajoso, que inclua o outro e que nos faça pulsar. Diante da falta de controle, o que podemos fazer é saber que haverá bons momentos, maus momentos e que, no final, o que vai contar é como, nos momentos difíceis, fomos capazes de nos ajudar uns aos outros. Olhar para trás e dizer: foi bom. Desculpem os críticos, mas o Flu de Diniz é bacana demais.
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