Na escala da indignação, morte de torcedor deveria superar postagem infeliz
Um torcedor do São Paulo foi morto enquanto celebrava o título de seu time fora do estádio. Primeiras análises indicam que Rafael Garcia foi morto por munição da Polícia Militar. Ele, que não conseguiu ingresso para a final, estava nos arredores do Morumbi festejando quando perdeu a vida.
Essa deveria ser a maior causa de indignação de todos, muito mais do que as postagens da ex-assessora da ministra Anielle Franco, Marcelle Decothé.
Marcelle errou, a ministra se desculpou, a assessora foi exonerada. A questão podia ter sido encerrada aí. Mas não foi. Todo tipo de racismo, machismo e misoginia ainda pulsam na crítica ao erro de Decothé.
Uso de avião, tietagem, comportamento no voo, frases ditas ao acaso; agora os detalhes da ida delas ao Morumbi são revelados como se fizessem parte de um crime hediondo.
O verdadeiro crime aconteceu na porta do estádio e, tudo indica, pelas mãos do Estado.
Um torcedor morreu. Perdeu a vida. Acabou para ele.
Mas não se fala disso. Se fala da ministra, da assessora, de todos os passos que deram entre Brasília e São Paulo.
Inaceitável é o comportamento da PM. Inaceitável é que um torcedor perca a vida. Uma série de postagens equivocadas e ofensivas é bastante ruim, mas a exoneração e o pedido de desculpas deveriam encerrar o assunto.
Também questionável e ofensivo é a elitização do futebol que exclui o torcedor e a torcedora de baixa renda do direito de ficar perto de seu time. Rafael morreu por amar muito o São Paulo. A diretoria, que tão ofendida ficou com as postagens de Decothé, não foi ao enterro, não fez homenagem, não se revoltou.
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