O Dinizismo na final da Libertadores: tá bom para vocês?
Sou uma incansável entusiasta do estilo de jogo de Fernando Diniz. Por causa da minha paixão já enfrentei inúmeras críticas. Alguns dizem que estou me deixando levar pela emoção quando analiso o que seu Fluminense faz, inclusive nas derrotas.
E, de fato, eu me deixo levar pela emoção porque não considero essa uma forma menos justa de análise. Antes de mais nada, não existe nada parecido com a razão pura quando estamos esmiuçando um jogo de futebol. Quem chega ao ponto de ser pago para fazê-lo está também envolvido por afetos, porque ninguém se torna profissional nesse meio sem ter chegado até aqui movido por paixões.
O Dininizismo, com D maiúsculo mesmo, me emociona. Me emocionam a coragem, a entrega, a ousadia, mas, mais do que tudo, a solidariedade.
Vejam o primeiro gol do Fluminense no Beira Rio. Marcelo pula sobre a bola sem olhar para trás. Ele sabia que haveria por ali um companheiro. E havia. Cano pega a bola, passa para John Kennedy e o time empata.
O segundo gol: Dessa vez, Kennedy, já na pequena área, sabe que atrás dele haveria alguém. E havia. Era Cano, que faz o gol da vitória.
Alguns chamam de "escadinha", eu chamo de solidariedade. Ninguém fica muito tempo sozinho, tem sempre alguém com quem jogar, tem sempre outro na sobra.
O Dinizismo não se preocupa em criar espaços. Ele se preocupa com a comunicação entre os jogadores. A caneta é a bola, a linguagem é a proximidade e a intimidade.
O Dinizismo não promete times invencíveis, promete apenas coragem e solidariedade. O que a vida quer da gente é coragem, escreveu Guimarães Rosa. E eu, humildemente, acrescentaria solidariedade.
Depois do empate no Maracanã escrevi que Dinizismo é vida. Parte da torcida do Fluminense chiou. Alguns diziam que eu falava isso porque não era tricolor. Bem, em parte sou. O Fluminense foi meu primeiro amor, mas essa história não cabe aqui. A questão aqui é que a ideia de que haverá um time perfeitamente montado que elimine a chance de perder ou de sofrer gol, um time tão soberano que entrará em campo sendo ao mesmo tempo temido e reverenciado por seus adversários, não é real.
Haverá times que se aproximem disso e que, ao se aproximarem, nos matarão de tédio.
O Fluminense de Diniz é um time que falha. Falha na zaga, falha na saída de bola, falha no último passe, falha na virada de jogo. Que ideia maluca é essa de que não podemos falhar? Algumas falhas são essenciais em nossas vidas. A diferença é que o Dinizismo absorve as falhas como parte do jogo. Fabio falhou no gol do Inter. Acontece. Vai acontecer de novo. Haverá derrotas ao longo do caminho. O time poderia ter sido facilmente eliminado pelo Inter. E eu não mudaria uma vírgula desse texto.
Há uma tentativa mundial de matar o futebol em nome do negócio. Vejam o que vai ser a Copa de 2030. Vejam o que fazem FIFA, Conmebol, CBF na administração desse esporte. Vejam os times ultra posicionais que espelham um jogo de handball. O Dinizismo chega se opondo a esses sistemas hegemônicos. Vai perder, claro que vai. Se opor a sistemas hegemônicos não é fácil. Mas, enquanto houver vida, o Dinizismo vai seguir.
Quem não se emocionou com a jogo do Beira Rio é maluco. Todo mundo que ama esse esporte deve ter aplaudido o que vimos em campo. A virada foi heróica e histórica, mas poderia não ter acontecido. Nesse caso cancelaríamos o Dinizismo? Não eu. O time do Fluminense faz meu coração bater mais forte, me explica um pouco da vida e do que estamos fazendo aqui. Pra mim, é o bastante.
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