Será que Neymar é taticamente limitado?
Ao observar Neymar em campo contra a Venezuela, em Cuiabá, me perguntei se o craque estava conseguindo, a partir do campo, ler o jogo. Segurando a bola, esperando muito para tocar mesmo tendo opções a seu lado, buscando arrancadas que seu corpo já não consegue dar ele não fazia a partida fluir - o que se espera de um camisa dez. Diniz trocou o time, mas manteve seu talento em campo. Parece estar disposto a recuperá-lo. Mas recuperar exatamente do quê?
Neymar tem atitude desinteressada. Há tempos - anos - não demonstra mais muito engajamento pelo trabalho. Como um empreendimento capitalista de sucesso absoluto, pode se dar ao luxo de seguir fingindo ser quem um dia foi. Vive da memória coletiva e tem quem pague, e pague bem, por essa imagem.
Mas mesmo essa memória passada vem de um brilho individual. Ele nunca foi exatamente um jogador de time. Foi sempre ele. Neymar Jr. Enquanto o corpo e a forma física ajudavam, era genial mesmo sendo genial sozinho. Hoje, em uma seleção que busca se formar a partir de um jogo mais solidário como pede o Dinizismo, eclipsou-se.
Neymar não parece compreender sua nova função tática como, por exemplo, seu companheiro Paulo Henrique Ganso compreendeu. Parece deslocado, perdido, correndo para lugar nenhum, segurando a bola.
Será que ele desenvolveu a escuta? Talvez não. Desde pequeno foi encorajado a apenas jogar o que sabe. Seu pai cuida do resto. O Junior na camisa deixa isso claro: há outro Neymar. Eu sou o filho, o menor, o que obedece. Não precisou desenvolver escuta alguma. Muito menos aprender a ler o jogo taticamente: era tão assombrosamente talentoso que isso bastava.
Não basta mais. Se quiser encerrar sua conturbada carreira em grande estilo vai ter que mudar como jogador e, eu diria, como pessoa. Olhar apenas para si mesmo não constrói mais craques. Olhar para o lado, entender que futebol é diálogo e relacionamentos, sim.
Foi parar na Arábia. Longe das luzes. Longe da atenção. Longe até das fofocas. Nem mesmo o Qatar se interessou por ele. É natural que o golpe seja sentido como moral e que ele perca confiança. Perder a confiança é perder quase tudo nesse caso.
Se o Junior não correr atrás de virar homem maduro, o terceiro ato da carreira de Neymar parece que vai ser pura decadência.
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